HC vira referência nacional em separação de bebês siameses
Instituição realiza com sucesso terceira cirurgia do tipo desde 2018; bebês Heloísa e Helena devem sair da UTI nesta quinta
, atualizado
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O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HC-RP), ligado à Universidade de São Paulo (USP), voltou a ser destaque nacional após realizar, com sucesso, a segunda etapa da cirurgia de separação das gêmeas Heloísa e Helena, unidas pela cabeça desde o nascimento. O procedimento ocorreu em 8 de novembro e as irmãs devem ter alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nesta quinta-feira (12).
Este é o terceiro caso de gêmeas siamesas craniópagas do hospital, sendo o primeiro o das irmãs Ysabelle e Ysadora, do Ceará, separadas em 2018, e o segundo, o das gêmeas Alana e Mariah, de São Paulo, separadas em 2023. Em todos os casos, os procedimentos foram bem sucedidos e as irmãs estão separadas e levam uma vida normal hoje.
O procedimento, que durou cerca de dez horas, foi conduzido por uma equipe multidisciplinar com mais de 40 profissionais e apresentou boa resposta clínica. A próxima fase da cirurgia está prevista para fevereiro de 2026.
REFERÊNCIA
A operação reforça a condição de Ribeirão Preto como referência nacional em separações de gêmeos siameses do tipo craniópago — quando há fusão no crânio e compartilhamento de estruturas cerebrais e vasculares.
Segundo o hospital, o resultado favorável desta segunda etapa se deve ao planejamento cirúrgico minucioso, que utilizou modelos tridimensionais, simulações digitais e realidade aumentada para mapear o cérebro e os vasos sanguíneos das crianças antes da intervenção.
METODOLOGIA
Essa metodologia vem sendo aprimorada desde 2018, quando o HC realizou a primeira separação completa de gêmeos siameses unidas pela cabeça no Brasil. Desde então, Ribeirão Preto se tornou referência técnica e científica nesse tipo de cirurgia, atraindo pacientes de várias regiões do país e consolidando sua imagem como um dos polos mais avançados de neurocirurgia pediátrica da América Latina.
De acordo com a equipe médica, o foco agora é na recuperação neurológica e clínica das meninas, que permanecem internadas na UTI Pediátrica com quadro estável. A terceira e última fase da separação deve ocorrer no início de 2026, quando as estruturas cerebrais remanescentes serão definitivamente isoladas.
"Trata-se de um processo longo, dividido em etapas planejadas, que visam reduzir riscos e garantir o desenvolvimento saudável das crianças", afirmou um dos responsáveis pela equipe, jayme Farina Junior.
estrutura
Além do impacto clínico, o caso reforça a importância do investimento público em ciência, tecnologia e formação médica de ponta. Os profissionais do HC-RP destacam que a estrutura do hospital universitário e a colaboração entre diferentes áreas da saúde foram fundamentais para o sucesso das operações.
"Esses casos mostram a força do trabalho multidisciplinar desenvolvido pela nossa equipe. Escolhemos os melhores profissionais para fazerem parte das equipes, que entregaram dedicação, união, motivação e qualidade", afirma o neurocirurgião Hélio Machado, líder das equipes que conduziram as duas primeiras cirurgias.
"São resultados magníficos e que nos orgulham muito", destacou Machado.
Segunda cirurgia ocorreu em 2023 e teve mais de 40 pessoas na retaguarda
As gêmeas Mariah e Alana, de um ano e sete meses, foram a segunda cirurgia do tipo realizda na cidade, em 6 de agosto, quando tiveram parte das veias do cérebro seccionadas.
O processo foi conduzido por uma equipe multidisciplinar de 40 profissionais do HCRP e teve ainda mais três outras cirurgias para a separação total de Mariah e Alana, ocorrid em 2023.
"A UTI neonatal cuidou dessas crianças para que elas pudessem chegar na condição boa que estão agora para serem submetidas a esse processo de separação", afirma a professora Ana Paula Carlotti, coordenadora do Centro de Terapia Pediátrico do HCRP, que acompanha as gêmeas desde o pré-natal.
1ª separação, em 2018, consolidou HC como centro de elite no Brasil
Em 2018, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP) concretizou o que até então parecia quase impossível: a separação bem-sucedida de duas irmãs, Maria Ysabelle e Maria Ysadora, que nasceram unidas pela cabeça — uma condição médica extremamente rara conhecida como craniópagia, estimada em cerca de 1 caso a cada 2,5 milhões de nascimentos.
A complexidade do procedimento residia no fato de que as meninas compartilhavam parte da estrutura craniana e vascular, exigindo não apenas técnicas cirúrgicas muito avançadas, mas também um planejamento prévio milimétrico.
A equipe coordenada pelos professores Hélio Rubens Machado (Neurocirurgia Pediátrica) e Jayme Farina Júnior (Cirurgia Plástica) contou ainda com a consultoria do renomado neurocirurgião norte-americano James T. Goodrich, considerado referência mundial em separações de siameses pela cabeça.,A intervenção projetou Ribeirão Preto no mapa nacional da medicina de alta complexidade. O HC consolidou-se como referência para casos extremamente raros.