Uirapuru: o brasileiro raro que sonhou em ser um GT mundial

O esportivo nacional dos anos 60 que uniu elegância europeia, mecânica Chevrolet e uma produção quase artesanal, tornando-se um dos carros mais desejados do país

, atualizado

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Brasinca 4200 GT ficou conhecido como Uirapuru
Brasinca 4200 GT ficou conhecido como Uirapuru - Foto: Divulgação
Brasinca 4200 GT ficou conhecido como Uirapuru - Foto: Divulgação

Em meio à efervescência criativa da indústria automotiva nacional dos anos 1960, surgia um projeto ambicioso: construir um Gran Turismo brasileiro, alinhado em estilo e desempenho aos grandes esportivos europeus da época. Essa ousadia nasceu da mente inquieta de Rino Malzoni, designer e construtor apaixonado por velocidade e estilo.Malzoni já era conhecido por seus esportivos de fibra destinados às pistas, mas queria ir além. Sua ideia evoluiu para um cupê elegante e robusto, que ganhou vida quando a Brasinca, empresa nacional com grande experiência em carrocerias, decidiu assumir o projeto e transformá-lo em um automóvel de produção limitada.Assim, em 1964, surgia o Brasinca 4200 GT, nome oficial do modelo que, pouco tempo depois, ganharia seu apelido mais famoso: Uirapuru.

O Uirapuru chamava atenção imediatamente por suas linhas longas e marcantes. Era um cupê de presença forte: capô estendido, faróis integrados, caimento suave do teto e traseira inspirada nos melhores GTs ingleses e italianos. Seu desenho, moderno para a época, tornava o carro uma peça de identidade própria, diferenciando-se de qualquer outro brasileiro já produzido.

A construção também impressionava. Enquanto muitos esportivos nacionais eram feitos de fibra de vidro, o Uirapuru recebia carroceria em aço, montada praticamente à mão, com acabamento sofisticado e interior digno de um automóvel de luxo: painel completo, bancos confortáveis e uma cabine pensada para longas viagens.No coração do modelo, pulsava o robusto motor Chevrolet 4.2 de seis cilindros, preparado pela própria Brasinca. Com mais carburadores e comando de válvulas mais agressivo, o conjunto ultrapassava os 150 cv, permitindo que o carro alcançasse cerca de 200 km/h um feito impressionante para o Brasil dos anos 60.O nome Uirapuru, inspirado no pássaro amazônico de canto raro e admirado, combinava perfeitamente com o automóvel.

Produzido entre 1964 e 1967, estima-se que apenas 70 a 80 unidades tenham deixado a fábrica, tornando-o um dos carros mais escassos e valiosos da nossa história automotiva.A curta vida do modelo não se deve à falta de qualidade muito pelo contrário. Sua produção artesanal, a carroceria de aço e o alto custo de fabricação tornavam o preço final elevado demais para o mercado brasileiro da época. Além disso, a Brasinca não era uma montadora tradicional, o que dificultou a expansão do projeto.

Apesar disso, o Uirapuru consolidou-se como um marco. Hoje, cada unidade sobrevivente é tratada como uma verdadeira obra de arte. Em encontros de carros antigos, quando aparece, atrai olhares instantâneos e admiração unânime.

Mais do que um carro, o Uirapuru representa o potencial criativo da indústria nacional e a ousadia de um Brasil que, mesmo com limitações tecnológicas, ousou desafiar padrões e sonhar alto. Um canto raro da nossa história e que merece ser lembrado. Para mais histórias como essa, siga @autofocorp