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Nos anos 1970, o Brasil era um país fechado para importações. Quem sonhava com uma Ferrari, um Porsche ou um Lamborghini, precisava se contentar apenas com fotos nas revistas de automobilismo. Mas esse mesmo cenário restritivo também abriu espaço para a criatividade nacional florescer. Foi nesse terreno fértil que nasceu o Volkswagen Bianco, um esportivo brasileiro que até hoje desperta paixões.
O criador foi Toni Bianco, designer que já tinha deixado sua marca no automobilismo, projetando carros de corrida e protótipos ousados. Visionário, Bianco queria oferecer ao público algo além dos modelos quadrados e utilitários que dominavam o mercado nacional. Em 1976, apresentou o Bianco S, que logo chamou a atenção pela sua proposta: um esportivo de linhas arrojadas, baixo, largo e com cara de carro europeu — mas feito com base na confiabilidade da Volkswagen.
A receita era típica dos esportivos nacionais daquela época: chassi e mecânica do VW Brasília, motor boxer 1.6 a ar, tração traseira, câmbio manual de quatro marchas, o Bianco tinha um coração simples, o mesmo que movia fusquinhas, kombis e brasílias. Mas o segredo estava na carroceria de fibra de vidro, moldada como uma escultura automotiva. O carro tinha faróis redondos baixos, capô longo e traseira curta, transmitindo esportividade em cada detalhe.
Se o desempenho não fazia frente aos esportivos europeus, o estilo compensava. O Bianco era um carro para ser visto. Em um tempo em que o máximo de ousadia estava em um Dodge Charger ou em um Maverick GT, aquele esportivo artesanal, com ar de Ferrari, chamava atenção por onde passava.
O interior também era diferente: painel envolvente, instrumentos esportivos, volante de três raios e bancos baixos, que davam a sensação de estar pilotando algo realmente especial. Para quem comprava, o Bianco oferecia a exclusividade que nenhum carro nacional de linha entregava.
A produção, no entanto, foi limitada. Estima-se que menos de 200 unidades tenham sido fabricadas entre 1976 e 1979. Isso porque era um carro artesanal, caro para os padrões da época e de manutenção trabalhosa. Muitos acabaram se perdendo ao longo das décadas, vítimas da ferrugem nos chassis VW ou da dificuldade em repor peças originais.
Hoje, encontrar um Bianco em bom estado é como encontrar um tesouro escondido. Restauradores se dedicam a resgatar cada detalhe, e os exemplares preservados são disputados por colecionadores. Não é raro ver preços que ultrapassam os de carros modernos de luxo — um contraste curioso, já que ele nasceu justamente para ser uma alternativa mais acessível aos superesportivos importados.
O Volkswagen Bianco é, portanto, mais que um carro. É um símbolo de ousadia brasileira, um capítulo de criatividade em meio às limitações impostas pelo mercado fechado da época. É também um lembrete de que sonhar alto, às vezes, é mais importante do que atingir a perfeição. para mais histórias como essa siga: @autofocorp