Da esperança à indiferença

Tenho como regra não falar sobre minhas posições políticas. Primeiro porque voto é secreto, pessoal e intransferível. Segundo porque, de verdade, acredito que ser de direita ou de esquerda é, antes de tudo, uma escolha.

, atualizado

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O mar de lama que inundou o nosso país nasceu no momento em que se começou a confundir isso com defeito e/ou qualidade. Estou cada vez mais convicto disso! Portanto, esta será a primeira vez que revelo uma escolha minha em uma eleição — e quero que seja a última.

A chefia deste jornal vai me perdoar a má palavra, mas eu achei do C@#!*& quando soube que existia uma mulher cadeirante na política. Desde então, venho acompanhando e votando na senhora Mara Gabrilli com constância. Porque, pra mim, a presença dela mostraria para um monte de engravatados, muitas vezes alheios à sociedade, que gente como eu existe e tem voz. Na minha cabeça, ela estar lá significaria, no mínimo, conquistar o ínfimo de respeitabilidade social.

Recentemente, acompanhando de longe uma conversa de WhatsApp sobre política, fiquei chocado.

Foram citados vários nomes fortes para a eleição ao Senado — sete criaturas no total — e ninguém sequer lembrou de Mara Gabrilli, que fatalmente será candidata à reeleição.

Qual a razão disso?

Fiquei dias refletindo e cheguei a uma conclusão dura: o grande legado de Mara Gabrilli nesses oito anos de mandato é um amontoado de nada.

Há um projeto iniciado aqui em Ribeirão Preto chamado ROMA, no qual profissionais de diversas áreas da reabilitação vão até escolas que têm alunos com deficiência e discutem com os educadores alternativas para melhorar o processo de aprendizagem desses PCDs.

A senadora tinha a obrigação de saber que isso existe — e de lutar pela expansão dessa iniciativa. Fez? Não.

Recentemente, o goleiro Cássio, maior ídolo da história do Corinthians e hoje jogador do Cruzeiro, fez um desabafo comovente sobre a dificuldade da filha autista em conseguir vaga em uma escola regular.

Se isso acontece com a família de um cara abastado, com condições, imagina com gente mais pobre ou de classe média?

Claro que acontece. Eu vi isso acontecer. E não apenas com autistas — com todas as deficiências!

Ao saber da história do Cássio, Mara Gabrilli deveria ter se manifestado fortemente. Não precisava fazer barulho, era caso de fazer estrondo.

Lembram quando falei do "ínfimo"?

Ela teve a chance de garantir o mínimo para a qualidade de vida de todo PCD, de lutar de verdade contra o preconceito e a exclusão.

O que foi feito? Zero coisas.

Uma prova da atuação xoxa de Mara Gabrilli é que ela não está sendo debatida por Josias de Souza, Andrea Sadi ou qualquer analista político renomado.

Está sendo debatida por um comediante deficiente, com alguns poucos seguidores nas redes sociais.

O mandato de Mara Gabrilli produz o pior dos sentimentos políticos possíveis: a indiferença.

*é comediante