Câmara, Justiça e o sarro na cara do ribeirão-pretano
, atualizado
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O ribeirão-pretano não tem motivos para comemorar. A decisão da Câmara de suspender o vereador Bigodini por 180 dias, em vez de cassar seu mandato, é um escárnio com a inteligência do eleitor e um tapa na cara da moralidade pública.
As provas são contundentes: o parlamentar dirigiu embriagado, foi flagrado e depois ainda tentou ludibriar as autoridades com uma versão fajuta para escapar da responsabilidade. Não há espaço para tergiversação — o episódio expõe o desprezo de parte do Legislativo pela ética e pela coerência institucional.
Quando um vereador mente para tentar safar o próprio rabo, não é apenas um deslize pessoal. É uma afronta à confiança do cidadão, à credibilidade da Casa e ao princípio básico de que quem faz a lei deve, antes de tudo, respeitá-la. Optar pela suspensão temporária é transformar o que deveria ser exemplo em piada — e das mais infames. A Câmara preferiu aliviar para um dos seus, reforçando a velha cultura da autoproteção que tanto mina a confiança popular nas instituições.
E se a Câmara faz o eleitor de bobo, a Justiça também não fica muito atrás. A decisão judicial que concede à ex-prefeita Dárcy Vera o pagamento de férias não gozadas enquanto esteve no cargo é mais uma zombaria com a cara do ribeirão-pretano. Vale lembrar: Dárcy não terminou o segundo mandato porque foi presa, acusada de comandar um esquema milionário de propina dentro da administração municipal. Premiar quem dilapidou o erário é um insulto a quem paga impostos e sustenta o mesmo sistema que, agora, a recompensa.
Mas, ao menos fora do plenário e dos tribunais, há boas notícias. A partir desta edição, o Jornal Ribeirão ganha um reforço que há tempos nossa equipe desejava oferecer ao leitor: a charge estreia na página 2, e as tirinhas, na página 13, sob o traço afiado e irônico de Josu Barroso. Humor inteligente é parte essencial da boa imprensa — provoca, alivia e, às vezes, diz mais do que mil editoriais.
É uma conquista editorial que enriquece o jornal e amplia o diálogo com o leitor, misturando crítica, leveza e arte em meio ao noticiário pesado da política local. Matária-prima, ao menos, não vai faltar.
Enquanto o plenário insiste em fazer da vergonha um hábito e a Justiça insiste em debochar do bom senso, seguimos acreditando que a lucidez — e o riso — ainda são nossas melhores armas.