A dificuldade para preencher vagas temporárias em RP

Com a chegada do fim de ano, período em que tradicionalmente aumentam as oportunidades de trabalho temporário, empresas de Ribeirão Preto e região têm enfrentado dificuldades para preencher vagas em setores como comércio, logística e serviços. Apesar da alta oferta, muitas posições seguem abertas por falta de candidatos qualificados e disponíveis.

, atualizado

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Segundo especialistas em mercado de trabalho, há uma combinação de fatores que explicam o fenômeno. A principal delas é a mudança no perfil dos trabalhadores, especialmente entre os mais jovens, que buscam modelos de trabalho mais flexíveis e não se identificam com contratos temporários e jornadas presenciais. Além disso, a defasagem de qualificação técnica e comportamental tem se mostrado um obstáculo constante: funções como operador de caixa, atendente, repositor e auxiliar de estoque exigem conhecimentos básicos de atendimento, comunicação e uso de sistemas digitais, competências que ainda faltam a muitos candidatos.

Outro elemento que contribui para o quadro é o avanço da informalidade. Muitos profissionais optam por manter atividades autônomas, como motoristas de aplicativo, entregadores ou vendedores online, em vez de se comprometer com contratos curtos e horários rígidos. Em Ribeirão Preto, redes varejistas e empresas de logística relatam que processos seletivos chegam a durar semanas, com dificuldade em atrair e reter interessados.

Para os candidatos, o cenário representa também uma oportunidade. Especialistas destacam que demonstração de proatividade e disponibilidade são diferenciais importantes. "Mesmo sendo temporária, a vaga pode abrir portas para efetivação. As empresas valorizam quem chega preparado, com boa postura e vontade de aprender".

Instituições locais como o SENAC, o SEBRAE e o PAT de Ribeirão Preto oferecem cursos gratuitos e rápidos nas áreas de vendas, atendimento e logística, o que pode aumentar as chances de contratação. Atualizar o currículo e usar as redes profissionais, como o LinkedIn, também são medidas eficazes.

A falta de mão de obra qualificada impacta diretamente a economia local. No comércio, o reflexo é sentido em quedas de produtividade e perda de vendas, especialmente em datas de grande movimento. Na indústria e na logística, a ausência de técnicos e operadores treinados gera aumento de custos e atrasos na produção. Setores fortes da região, como o de alimentos e bebidas, têm relatado dificuldade para preencher funções técnicas, enquanto o varejo enfrenta escassez de vendedores experientes.

As agências de emprego e departamentos de recursos humanos vêm tentando se adaptar. O uso de redes sociais, feirões de emprego e entrevistas online tem se mostrado uma alternativa eficaz. Em Ribeirão Preto, parcerias entre o setor privado e entidades locais têm permitido ações integradas, aproximando empresas e candidatos de forma mais ágil. A oferta de treinamentos curtos e programas de integração antes da contratação também tem ajudado a reduzir desistências.

Apesar dos desafios, o movimento de contratações temporárias tem efeito positivo na economia regional. A geração de empregos de fim de ano ajuda a reduzir o desemprego e a injetar renda no comércio, criando um círculo virtuoso de consumo. Parte dessas vagas se transforma em empregos efetivos no início do ano seguinte, contribuindo para o saldo positivo no CAGED.

Nos últimos anos, Ribeirão Preto tem registrado crescimento consistente nas contratações formais após o período natalino, reflexo direto do dinamismo do comércio e da indústria local. Para os analistas, o emprego temporário funciona como um termômetro da confiança empresarial e um importante indicador da retomada econômica.

Acredito que, quando as empresas voltam a contratar, mesmo que de forma temporária, é sinal de que estão mais confiantes no consumo e na recuperação da atividade. E isso se reflete em toda a cadeia produtiva da cidade.

Em meio a um cenário de ajustes e transformações no mercado de trabalho, o desafio para Ribeirão Preto será equilibrar a demanda crescente por profissionais com a necessidade de qualificação e engajamento, fatores essenciais para sustentar o ritmo de crescimento que a região vem retomando.

*Professor de economia