Quem mentiu, o prefeito ou a assessoria?

, atualizado

Compartilhar notícia

Um bom administrador não pode dormir no ponto. Mas tampouco pode confundir eficiência com atropelo. Governar exige ritmo, não correria cega; exige decisão, mas também respeito aos ritos, às normas e às instituições que existem justamente para evitar erros, ilegalidades e prejuízos futuros.

Nesse sentido, é positiva — e até desejável — a pressa da Prefeitura em viabilizar a obra do Instituto Federal. Trata-se de um equipamento estratégico, capaz de trazer ensino superior público e de qualidade, fortalecer a formação técnica e acadêmica e consolidar ainda mais Ribeirão Preto como polo educacional regional. Ninguém de bom senso é contra isso. Ao contrário.

O problema é que obra pública não anda no grito, no vídeo de rede social ou na base do "vamos fazendo e depois a gente vê". Para sair do papel, precisa cumprir etapas claras, entre elas a aprovação por órgãos técnicos e de preservação, como o Conppac. E isso, até onde se sabe, simplesmente não aconteceu.

A confusão — e a desmoralização institucional — se agrava quando a própria Prefeitura se perde na narrativa. Em nota oficial recente, o governo municipal afirmou que a obra do Instituto Federal sequer foi iniciada. Estranho. Muito estranho. Em maio, o prefeito Ricardo Silva foi categórico, em seus já conhecidos vídeos, ao afirmar que as obras já tinham começado. Não houve dúvida, condicional ou ressalva. Foi dito com todas as letras.

Diante disso, o Jornal Ribeirão faz uma pergunta simples e direta, como deve ser no trato da coisa pública: quem mentiu? O prefeito, ao afirmar que a obra estava em andamento? Ou a assessoria, ao sustentar, seis meses depois, que nada começou? As duas versões não se sustentam juntas. Alguém faltou com a verdade.

O contraste fica ainda mais gritante quando se observa que essa mesma administração não demonstrou qualquer pressa — nem mínima — para fazer andar as obras da Fábrica de Cultura. Ali, não há atropelo, não há vídeo, não há urgência. Há, sim, paralisia. Há servidor terceirizado contratado que passa os dias na Casa da Cultura sem absolutamente nada para fazer, porque a Prefeitura não cumpriu sua parte nem demonstrou interesse real em destravar o projeto.

O cenário se repete em outras áreas. A operacionalização dos museus municipais segue empacada, sem cronograma, sem transparência e sem prioridade política. Não é falta de regra, de parecer ou de rito. É falta de vontade administrativa.

Pressa seletiva não é virtude; é problema. Quando convém, corre-se demais. Quando não convém, nada anda. E governar assim cobra um preço alto: o da desorganização, da perda de credibilidade e do desperdício de dinheiro público.

Administrar bem é saber quando acelerar e quando respeitar o tempo das coisas. Ribeirão Preto merece menos improviso, menos marketing e mais gestão de verdade.