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A política é, por natureza, a arte do possível. No entanto, em Ribeirão Preto, ela tem flertado perigosamente com a arte do improvável.
O período eleitoral é, tradicionalmente, o momento em que se desenham horizontes e se pactuam compromissos com a população. Contudo, o que temos assistido na cidade é a transformação da quebra de palavra em uma rotina administrativa desgastante, onde o calendário das promessas raramente coincide com o relógio da realidade.
O cenário local oferece exemplos pedagógicos desse descompasso. A gestão municipal, sob a liderança de Ricardo Silva (PSD), iniciou seu ciclo com a promessa contundente de reabertura da UPA na antiga UBDS Central logo nos primeiros dias de governo. A saúde, urgência máxima de qualquer cidadão, foi usada como bandeira de eficiência imediata. Os "primeiros dias" passaram, o calendário avançou, e a promessa permanece em suspenso, confrontando a expectativa criada com a inércia da execução.
Não é um caso isolado de desarranjo cronológico. A entrega dos uniformes escolares de inverno, realizada às portas da primavera, transcende a mera questão logística; torna-se um símbolo de uma gestão que parece correr atrás do tempo, em vez de dominá-lo. O agasalho que chega quando o frio já partiu não aquece; apenas evidencia a falha no planejamento básico.
A frustração, todavia, não se restringe ao âmbito municipal. O Governo do Estado também contribui para essa fatura de débitos com a população ribeirão-pretana. A esperada Fábrica de Cultura, prometida para estar em pleno funcionamento em 2025, engrossa a lista de projetos que, no papel, são irrepreensíveis, mas que na prática, não saíram do terreno das intenções.
É preciso compreender que a promessa é parte vital do jogo democrático. Ela sinaliza a direção, a ambição e o projeto de futuro. Entretanto, a política moderna não sustenta mais o discurso desacompanhado da tekhne — a técnica, a competência executiva.
Prometer é fundamental para inspirar, mas cumprir exige mais do que vontade política; exige rigoroso planejamento, orçamento realista e, acima de tudo, conhecimento técnico apurado. Sem o alicerce da capacidade administrativa, a promessa eleitoral degrada-se em estelionato cívico. Ribeirão Preto merece mais do que intenções; merece a dignidade da palavra empenhada transformada em obra e serviço, no tempo certo e com a qualidade devida.