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Volta à pauta uma nova proposta de permuta envolvendo a Prefeitura — e, mais uma vez, cercada de polêmica. Agora, trata-se de uma família que acumula uma dívida superior a R$ 8 milhões com o município e que ofereceu, como forma de quitação, um terreno cuja avaliação — apresentada pelos próprios interessados e endossada pela administração — ultrapassaria R$ 9 milhões. O ponto sensível é que o imóvel está localizado em área de preservação permanente, colado ao Morro do São Bento, nos Campos Elíseos, uma região ambientalmente frágil e com regras muito específicas de uso.
A proposta já desperta desconfianças não apenas pelo valor sugerido, mas pelo histórico recente do município em operações semelhantes. Ainda está fresca na memória a controvérsia envolvendo a permuta de área pública na zona Sul com o Colégio Marista, quando imobiliárias e especialistas contestaram a avaliação da área pública apresentada, apontando possível subfaturamento e favorecimento indevido. A falta de clareza naquele processo abriu um flanco de descrédito que, agora, volta a se escancarar.
Inicialmente, a prefeitura teria um "lucro" milionário com a troca, mas, na prática, a difenrença de valores poderia significar um prejuízo de mais de R$ 60 milhões aos cofres públicos.
É justamente por esse acúmulo de desconfianças que o caso atual exige redobrada atenção. Uma área ambientalmente sensível, cujo uso é restrito, pode realmente ser avaliada em mais de R$ 9 milhões? Há estudos independentes que confirmem esse valor? A permuta atende ao interesse público ou apenas resolve a vida de particulares? São perguntas que precisam de respostas transparentes — não apenas para técnicos ou servidores, mas para toda a sociedade.
Negociações que envolvem grandes áreas, patrimônio público e cifras milionárias não podem ser conduzidas sob névoa. Câmara Municipal, imprensa e Ministério Público têm a responsabilidade de acompanhar cada passo, garantindo que o interesse coletivo prevaleça sobre pressões e arranjos privados.
A administração municipal não pode se transformar em um balcão de negócios imobiliários — e é justamente essa impressão que, ao que tudo indica, começa a se consolidar. Transparência não é detalhe: é condição mínima para que a cidade confie em quem governa.