Compartilhar notícia
Já acreditei em muitas mentiras, mas houve uma à qual nasci de sapatos: a que ostenta a juventude como portadora de um futuro redentor! Não dei ouvidos a essa abominável baboseira. O que me espantava - e ainda me espanta - não é a promessa vazia, mas o torpe espírito de rebanho da mocidade. Um medo lancinante da solidão, a submissão canina, a ânsia nauseante de ser aceito, de ser parte, de prostituir-se em troca de migalhas de aprovação.
É nos seus pares que o jovem experimenta, pela primeira vez, o gosto amargo do poder. Um poder bruto, abjeto e cruel, onde triunfam os mais fortes, os mais descarados, que pisoteiam sem piedade os frágeis. A provação é perversa, e sua moeda de cobrança é a humilhação. Essa mesma massa barulhenta e grotesca o repele com desprezo e hostilidade, exigindo-lhe não apenas obediência, mas docilidade rastejante.
Ah, a rebeldia contra os pais! Farsa patética. Frente aos próprios iguais, a postura é outra: curvam-se em subserviência. Por quantas humilhações não passam, apenas para evitar o opróbrio de serem devolvidos, como pacotes defeituosos, aos braços maternos?
E é dessa fraqueza juvenil - dessa alma crivada de lacunas e rachaduras - que oportunistas se alimentam. Esses cães famintos por ideologia, com a destreza de predadores experientes, farejam o medo e atacam sem clemência. O Estado modernizador, em promíscuo conluio com intelectuais ativistas e com o mercado, toma crianças e jovens como bucha de canhão para suas cruzadas de "transformação social". Salas de aula tornam-se trincheiras, e os corredores ressoam com os ululados de adolescentes exaltados: "fascista!", "nazista!", "supremacista!", "racista!" - vocábulos cuspidos entre perdigotos exaltados. A realidade é estilhaçada, invertida como num espelho deformado, transformando-os em títeres de manipulação política.
O uso de menores como material publicitário ou combustível ideológico é imoral e criminoso, mas normalizou-se. Ficamos cegos, surdos e mudos diante dessa perversidade. Não percebemos que isso começou há muito tempo, desde os tempos da Revolução Francesa, quando garotos fanatizados - os inocentes úteis - foram usados para lançar bombas. A partir daí, a candura infantil foi maculada, pervertida, posta à venda em todos os tablados do mundo.
A indústria capitalista logo percebeu a eficácia da "pureza" infantil como instrumento de chantagem emocional. Crianças-emblema moviam montanhas e transformavam a ternura dos pais em algemas. A família, célula social em avançada decomposição, passou a ser devorada de fora para dentro, enquanto o mercado ria sarcasticamente de um lado e as ideologias devoravam vorazmente do outro.
E foi nos anos 1980 que o verdadeiro inferno se abriu. Organizações "humanistas" - ONGs, governos, instituições burocráticas - abraçaram com fervor o marketing infanto-juvenil. Esse veneno destilado passou a ser apresentado como tônico de justiça. Na verdade, usavam jovens como carne nova para o moedor, oferecendo-lhes a ilusão de que dominavam o mundo, de que suas opiniões eram definitivas. Diziam-lhes, em ecos mal-inspirados: "O Futuro nos Pertence". Palavras repetidas pela juventude hitlerista, sintetizando a vanguarda de todas as perversões ideológicas: nazismo, comunismo, seitas, drogas. Os jovens sempre à frente - mas na direção do abismo.
No altar dessas ideologias rasteiras - erguido pela casta intelectual e suas professorazinhas semiletradas -, a juventude tornou-se sacerdotisa e algoz. Impondo "novos valores" aos progenitores, desdenham de seus próprios pais, reduzidos agora à condição de equilibristas patéticos. Os lares se transformam em picadeiros de tragédia. Adolescentes devoram a autoridade paterna como lobos famintos, castrando o lar, exigindo liberdade enquanto se ajoelham diante do rebanho de seus iguais.
E o que sobra disso? Um mundo cinicamente sem futuro. Jovens que envelhecem precocemente - mas não em sabedoria, e sim em cinismo e vazio.
O espetáculo final é dantesco: a juventude, despojada de alma e inocência, é sacrificada no altar do mercado e de ideologias vazias. Triste tempo esse o nosso, em que nos deixamos iludir pela mentira pueril de que esse futuro podre lhes pertence - quando, diante do abismo, o único gesto sensato seria dar um passo atrás e permitir que os jovens envelheçam.
*é professor e cientista político