Decoro parlamentar e vida pessoal: o difícil equilíbrio no caso do vereador Bigodini

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vereador Roger Ronan da Silva, conhecido como Bigodini
vereador Roger Ronan da Silva, conhecido como Bigodini - Foto: Foto; Record
vereador Roger Ronan da Silva, conhecido como Bigodini - Foto: Foto; Record

A recente polêmica envolvendo o vereador Roger Ronan da Silva, conhecido como Bigodini, reacende o debate sobre os limites entre vida pessoal e ética pública, sobretudo diante do papel de representantes eleitos que carregam a confiança da sociedade. O episódio do acidente de trânsito, com suspeitas de condução sob efeito de álcool, mentiras em boletim de ocorrência e até mesmo a presença de uma garrafa de bebida alcoólica no veículo, toca diretamente no conceito de decoro parlamentar, ainda que fazem parte da vida pessoal do vereador que vai muito além da simples formalidade: é uma exigência legal e ética crucial para quem ocupa cargo público.


Não cumprir, burlar ou mesmo envolver-se em práticas ilegais fora do ambiente da Câmara pode – e deve – atingir a autoridade do parlamentar, uma vez que a confiança do eleitorado baseia-se na integridade pessoal e pública daquele que recebeu um mandato para representar seus interesses. O vereador Bigodini, ao aparecer supostamente dirigindo embriagado e oferecendo declarações contraditórias às autoridades policiais, gerou um impacto direto na credibilidade de sua função, justificando plenamente a abertura do processo que apura sua conduta.


Contudo, é imprescindível que toda investigação se dê com rigor e responsabilidade. Os vídeos e demais provas devem ser analisados de forma completa e imparcial, sem edições, cortes ou sugestões que possam distorcer a verdade dos fatos. O direito à ampla defesa e ao contraditório não deve ser apenas uma formalidade, mas um compromisso inegociável com a justiça e com a própria população, que espera respostas claras — e não espetáculos midiáticos.


Infelizmente, o calvário vivido por Bigodini também reflete uma questão estrutural: a cultura da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, que historicamente não investiga com prioridade e rigor suas próprias lideranças quando cometem deslizes, contribuindo para julgamentos subjetivos públicos precipitados e, muitas vezes, para a posterior exploração midiática exacerbada. A exposição de fotos e fatos da vida pessoal do parlamentar, incluindo registros controversos do seu relacionamento com a namorada (fotos do vereador arranhado) – que inclusive mantém medida protetiva – extrapolou os limites éticos de uma divulgação responsável, beirando uma perseguição que desconsidera a dignidade humana. Obviamente que o fato de que o vereador e namorada envolvidos acidente tinham medidas cautelares de medida protetiva merecia sim o registro jornalístico, mas a divulgação das fotos do vereador, tendeu a uma exposição maldosa para leva-lo a uma desmoralização, na qual não tem relação com o acidente. (fotos)


É importante destacar que, apesar do desgaste e do clamor público, o pedido formal de cassação não ultrapassou essa linha do respeito institucional. Pelo contrário, cumpriu o papel fundamental de frear condutas incompatíveis com o mandato e de assegurar um processo ético e democrático. Resta agora garantir que o vereador tenha a oportunidade real de apresentar sua versão perante a comissão processante, numa fase que deve primar pela isenção, pela justiça e, sobretudo, pela ausência de corporativismos ou execração midiática.


O destino político e ético de Bigodini está nas mãos desta comissão, que tem a responsabilidade de conduzir uma apuração séria, transparente e equilibrada. Somente assim será possível restabelecer a confiança da população, respeitar os direitos do parlamentar e preservar a dignidade da representação pública em Ribeirão Preto.