'O PSDB é um partido com futuro'
Professor da USP e novo presidente do PSDB em Ribeirão Preto fala sobre reconstrução da sigla após debandada, elogia Nogueira, mas afirma: não sou testa de ferro
, atualizado
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Professor titular de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Direito pela Universidade de Munique, Alessandro Hirata é o novo presidente do PSDB em Ribeirão Preto. O momento, porém, não é dos melhores. Após décadas de protagonismo, com a eleição de três prefeitos — Roberto Jábali (1996), Welson Gasparini (2004) e Duarte Nogueira (2016-2024) —, o PSDB enfrenta esvaziamento e busca reencontrar espaço em meio à polarização política e à dispersão de lideranças.
Indicado pelo diretório estadual e assumidamente homoafetivo, Hirata tenta conduzir o processo de reconstrução local, mantendo laços com Nogueira — a quem considera mentor —, mas defendendo um projeto de "renovação genuína" da sigla. "O PSDB tem futuro", afirma.
Secretário de Justiça entre 2021 e 2023 e, depois, da Casa Civil até o fim de 2024,ele não nega a proximidade com o ex-prefeito, mas refuta ser um mero "testa de ferro" no comando da legenda. "Ingressei no PSDB nos anos 1990 e sempre atuei na vida pública", diz.
Nesta entrevista ao Jornal Ribeirão, Hirata fala sobre os desafios de reorganizar o PSDB, as interpretações sobre sua ligação com o ex-prefeito, o impacto da reforma administrativa e as perspectivas para as próximas eleições.
"O PSDB vive um momento de reconstrução. É um partido com história e grande potencial de contribuição, distante das polarizações e dos extremismos", resume o professor da USP, que pretende ampliar o diálogo com novos quadros e atualizar o cadastro de cerca de 3 mil filiados na cidade. A seguir, a entrevista completa.
JORNAL RIBEIRÃO: O PSDB apresenta um cenário peculiar. Em Ribeirão, o partido esteve no governo em diversas oportunidades: Antonio Roberto Jáber, em 1996; Welson Gasparini, em 2004; e Duarte Nogueira, em dois mandatos consecutivos (2016-2024). O partido sempre demonstrou grande força política na cidade. Como o senhor analisa este momento de debandada?
ALESSANDRO HIRATA: O PSDB vive um momento de reconstrução e renovação, não apenas em Ribeirão, mas também em âmbito estadual e nacional. É uma fase de reinvenção de um partido com vasta história — presente no governo federal e com 28 anos de atuação no governo estadual — que busca reafirmar seu papel no cenário político. É, de fato, um período crucial, pois acreditamos que o PSDB é essencial neste contexto, distante das polarizações e dos extremismos. O partido tem história, coerência e grande potencial de contribuição para a cidade e para o país.
E em Ribeirão, qual a perspectiva após a saída de Nogueira, principal liderança do partido?
Nesse processo de reconstrução, o diretório estadual me convidou e aceitei assumir a presidência do PSDB em Ribeirão. O objetivo é atuar como nova liderança e ajudar o partido a se reorganizar. Nogueira continua sendo nossa grande referência política — não houve rompimento. É meu mestre na política e na gestão. Embora hoje esteja em outro partido, seguimos próximos e alinhados. Trabalhamos juntos pela reconstrução do PSDB, ampliando convites a novos integrantes e fortalecendo a base local.
Nos bastidores, há quem diga que o senhor seria uma espécie de "testa de ferro" de Duarte Nogueira. O que responde a isso?
Essas observações são naturais. Fui secretário de Justiça e da Casa Civil, estive ao lado dele em toda a gestão e fui seu pré-candidato à sucessão. Temos afinidade pessoal e ideológica. Mas o processo de reconstrução do PSDB é genuíno — não se trata de manutenção de influência, e sim de reconstrução partidária, com abertura a novos quadros.
Quantos filiados o partido possui atualmente em Ribeirão Preto?
Os registros no TSE indicam cerca de 3 mil filiados. No entanto, é necessário atualizar esse cadastro. Embora muitos sejam ativos, queremos maior participação e faremos chamadas específicas para reaproximar a militância.
Sobre as próximas eleições, o PSDB terá candidatos em 2026?
Ainda é cedo para citar nomes, mas certamente teremos candidatos a deputado estadual e federal pela região. O objetivo é fortalecer o partido e marcar presença neste processo de reconstrução.
Na última eleição, o senhor foi candidato a vice-prefeito na chapa de André Trindade (União Brasil). Muitos atribuem a indefinição da candidatura ao então prefeito Duarte Nogueira, o que teria prejudicado o desempenho. Houve falha na condução?
Após qualquer eleição, surgem análises sobre o que poderia ter sido diferente. Mas, especialmente na política, tudo depende do tempo certo. Naquele momento, as decisões tomadas pareciam as mais adequadas. Avaliar depois é mais fácil, mas acredito que foi o que se entendeu correto à época.
O senhor teve papel importante na reforma administrativa, processo que gerou polêmica e ações judiciais. Como avalia esse episódio?
Minha entrada na Prefeitura, a convite de Nogueira, ocorreu por minha trajetória como professor e gestor público. Sempre defendi a gestão técnica e a educação como instrumentos de transformação. A reforma administrativa foi profunda e necessária. Revogou mais de 35 leis antigas e modernizou a estrutura municipal. Reformas dessa natureza geram tensões, mas são fundamentais e contínuas. Avalio o processo como positivo e essencial para aprimorar a administração pública.
O senhor tem assumidamente orientação sexual homoafetiva. Considera que a questão de identidade sexual alguma vez tenha motivado comportamentos discriminatórios?
Nunca permiti que rótulos definissem quem eu sou ou o que eu posso fazer. O que me define é o trabalho, a dedicação e o respeito pelas pessoas. Acho que a sociedade está pronta para olhar o que realmente importa: resultados e integridade.
Além de Nogueira, quais são suas referências na política?
Conheci o governador Mário Covas, que foi meu grande exemplo de homem público e gestor, no período em que Fernando Henrique Cardoso presidia o país. FHC, professor da USP como eu, é outro modelo de político e homem público que admiro profundamente.
Como o senhor avalia a atual gestão e o momento político de Ribeirão Preto?
O projeto da atual administração é claramente distinto do que implementamos nos oito anos de governo Nogueira. É preciso aguardar os resultados, mas os caminhos são muito diferentes. O cenário político de Ribeirão reflete o nacional: uma polarização nociva que empobrece o debate e prejudica a construção de soluções reais. É isso que queremos enfrentar, oferecendo uma alternativa equilibrada.
É possível reconstruir o PSDB?
Sim, com certeza. O partido possui não apenas uma vasta história, tendo sido muito importante para a construção do país e de nossa cidade, como você disse, mas também tem futuro.