'É mais fácil se livrar do rebaixamento que do sócio. Mas vamos fazer os dois'
Eduardo Esteves, presidente do Botafogo Futebol Clube, detalha a briga judicial contra Adalberto Baptista e convida nação tricolor a comemorar os 107 anos do clube
, atualizado
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O Botafogo Futebol Clube vive um dos capítulos mais desafiadores de sua centenária história. Mergulhado em uma complexa disputa com seu sócio investidor, o clube se vê em uma encruzilhada que transcende as quatro linhas. E as palavras do presidente Eduardo Esteves ecoam a gravidade da situação: "asfixiamento" e "aquisição hostil" descrevem um cenário onde a sobrevivência da associação é posta à prova diariamente.
Sem meias palavras - chamou o investidor Adalberto Baptista, presidente da Trexx, investidora na Botafogo SA da "predador", Esteves falou sobre as batalhas judiciais cruciais, como o Regime Centralizado de Execuções (RCE) e a arbitragem na Câmara Brasil Canada, na qual discute a exclusão de Baptista da sociedade.
"É mais fácil se livrar do rebaixamento do que do sócio. Mas as coisas estão caminhando e vamos nos livrar dos dois", afirmou. A mobilização da torcida, através de iniciativas como a vaquinha virtual para custear a briga judicial, emerge como um pilar fundamental nessa luta, demonstrando que, apesar das adversidades financeiras e políticas, a paixão pelo Botafogo permanece inabalável.
Esta entrevista exclusiva, revela os bastidores dessa guerra pela alma do clube, os desafios enfrentados e a esperança de um renascimento.
JORNAL RIBEIRÃO: Gostaria de iniciar abordando a questão do RCE. Qual a chance de ela prosperar?
Eduardo Esteves:
O RCE foi aprovado pela Justiça. Trata-se de uma câmara centralizadora de nossas maiores dívidas. Estamos agrupando débitos históricos do clube, alguns com mais de 10 ou 15 anos, e elaborando um plano de pagamento para 2, 3 ou 4 anos. Para isso, utilizamos os 20% da receita bruta mensal que a Botafogo Futebol S.A. deve repassar ao Botafogo, conforme determinação legal. Esse valor é depositado em juízo e seguirá o plano de pagamento já apresentado à Justiça.
Essa é uma conquista significativa para o Botafogo, pois são dívidas que atormentam a associação. Sua importância reside no fato de que, se não forem pagas, a empresa sócia pode realizar um movimento hostil para adquirir nossas cotas e exigir nossa participação na própria empresa, o que representa um risco considerável de perdermos nossa voz. Por isso, o RCE é fundamental. Nossa maior dificuldade, atualmente, é o recurso para custear o processo.
É de conhecimento público que o Botafogo está sendo asfixiado pela empresa sócia, sem qualquer tipo de repasse ou pagamento nos sete anos de existência dessa parceria. Diante disso, decidimos levar a situação ao conhecimento do torcedor e pedir ajuda, o que motivou a criação da vaquinha virtual.
Como avalia o desempenho da vaquinha?
O desempenho é positivo. Em três ou quatro dias de lançamento, já atingimos quase 10% do objetivo de R$ 100 mil. Acredito que o valor pode e deve aumentar à medida que a divulgação e a explicação avançarem. Muitos torcedores no estádio, por exemplo, não estavam entendendo a situação e precisamos esclarecer. É um momento de dificuldade, e recorremos ao torcedor, que é a peça mais importante e a razão da existência da associação. Precisamos muito da ajuda de todos.
O senhor já usou os termos "asfixiamento" e "aquisição hostil". Há uma batalha judicial em curso contra a o sócio investidor...
Não se trata mais de uma opinião pessoal, mas de um consenso coletivo entre os poderes do clube, torcedores comuns e organizados: a situação é insustentável. Diversas tentativas de acordo e conciliação ocorreram. Várias pessoas procuraram o representante da empresa sócia para viabilizar um entendimento. Contudo, do outro lado, há um grande desejo de se tornar dono do clube. Por isso, sempre menciono a asfixia financeira. É nítido e claro, para quem quiser ver, os movimentos que visam aniquilar a associação.
Diante deste cenário, entendo, como presidente, e as forças políticas do clube também, que nosso caminho é a arbitragem, buscando a exclusão dessa empresa sócia da companhia. Isso abrirá caminho para que o Botafogo possa respirar e ter liberdade. Afinal, a associação deu origem a tudo isso; o Botafogo Futebol Clube é centenário, detém os direitos esportivos e a história. O Botafogo é um produto interessante no mercado do futebol, e precisamos alcançar essa liberdade. Não há como continuar com um parceiro que deseja o nosso fim. É uma parceria absurda.
Afinal, de quem é a culpa pela situação do Botafogo?
Não adinta apenas culpar o sócio. Peço desculpas ao torcedor, pois, se estamos vivendo tudo isso, o BFC e seus dirigentes têm grande parte de culpa. Mas todos erram, e muita gente que acreditou, foi enganada e errou, hoje luta para reverter a situação. Peço um voto de confiança ao torcedor.
Sua gestão foi uma defesa do Botafogo nas instâncias judiciais. O que gostaria de ter feito e não pode?
Primeiro, não podemos esquecer que toda essa luta pela defesa do Botafogo começou com o presidente Dmitri, que identificou problemas e levantou a bandeira. Hoje, na presidência, compreendo perfeitamente a dificuldade e as decisões dele e do presidente Alfredo, pois não é fácil enfrentar a pressão e a luta contra o poder econômico.
O presidente Alfredo buscou um acordo, mas o desgaste foi gigantesco, levando-o a se afastar. Passamos todo o período lutando, sem condições de criar novos caminhos.Ainda assim, acredito que nossa administração, com a ajuda de todos, fez muito. Renegociamos dívidas com o município e com o departamento de água da cidade, continuamos pagando questões trabalhistas e acertamos dívidas com ex-jogadores como Isaac e Nunes. Revitalizamos a escola de futebol, que estava fechada.
No entanto, e esta é a parte que mais me frustra, eu gostaria muito que o negócio estivesse dando certo, que os contratos estivessem sendo assinados e cumpridos. O DNA do Botafogo é futebol. Gostaria de ter colaborado para que estivéssemos hoje no G4, disputando um acesso para a Série A. É uma frustração indescritível não poder contribuir para que o time estivesse no topo, e não na parte de baixo da tabela.
O senhor acredita que há chance de evitar o rebaixamento?
Acredito que não seremos rebaixados. Fizemos uma live e no dia seguinte, na partida, senti que deixamos uma energia positiva na sala do Conselho. O Botafogo é assim, luta até o último minuto. Está difícil, mas tenho a convicção de que não cairemos, e não podemos cair.
É mais fácil resolver a situação dentro ou fora de campo?
Eu diria que dentro de campo. Se estivermos firmes com os jogadores, apoiando e mostrando que acreditamos, conseguiremos escapar. Fora de campo, as coisas caminham, mas não na velocidade que gostaríamos. Há várias amarrações, dificuldades e pedras no caminho que foram colocadas. Mas o Botafogo é resiliente; vamos remover cada obstáculo e conquistar o que é de direito do clube.
Sobre o evento de aniversário neste final de semana. Como vai ser?
Teremos a oportunidade de estar em um ambiente onde se respira Botafogo, de expressar o que está "entalado", de buscar informações com dirigentes atuais e do passado, de manifestar o apoio ou o protesto, de se divertir e de contribuir instituições. É uma forma de o clube, como entidade social, contribuir com as associações. Teremos atrações musicais com talentos botafoguenses: Donnie Max, com seu repertório de MPB, e DJ Menor, um torcedor de organizada, que também é DJ profissional, o que mostra a diversidade do Botafogo.
Uma definição em uma palavra sobre o sócio investidor.
É complicado, mas em uma palavra: predador.
O Botafogo tem eleições no fim do ano. O senhor é candidato?
Essa é a pergunta que mais ouço. A decisão não é exclusivamente minha. O estatuto permite minha continuidade. Acredito que tenho feito um bom trabalho, honrando o nome do Botafogo e mostrando o que está acontecendo com nosso clube no mercado do futebol. Contudo, a decisão não é apenas minha. Há um grande grupo que me apoia, e essa decisão passará por esse grupo. Será uma decisão colegiada, no momento certo.