Usinas investigadas na região têm R$ 22 milhões retidos por distribuidora

Unidades da Carolo, Itajobi e Rio Pardo buscam medida extrajudicial para liberar recursos; situação ameaça negócios e coloca empregos em risco

, atualizado

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As centenárias Usinas Carolo, Itajobi e Rio Pardo, referências na produção de açúcar e álcool na região de Ribeirão Preto, formalizaram uma cobrança extrajudicial contra a distribuidora ED&F Man Brasil Ltda exigindo o pagamento imediato de uma dívida que ultrapassa R$ 22 milhões. A notificação, enviada no dia 10 de setembro de 2025, marca um momento crítico para o setor sucroalcooleiro local, que já enfrenta desafios estruturais graves.

Segundo o documento, a dívida, composta por R$ 12,7 milhões com vencimento em 28 de agosto e R$ 9,5 milhões com vencimento em 4 de setembro, remete a compromissos financeiros não honrados pela ED&F Man. O acordo previa que a empresa realizaria pagamentos diretamente aos fornecedores responsáveis por cana-de-açúcar, materiais e serviços essenciais à operação das usinas, mas os repasses não foram efetuados, gerando inadimplência contratual.

OUTRO LADO

A ED&F Man alega dificuldades para o pagamento das três usinas, cuja controladora está envolvida em uma apuração de organização criminosa para apurar uso das instituições para lavagem de dinheiro para o PCC, na Operação Carbono Oculto.

Além do impacto financeiro imediato, a inadimplência da gigante do setor pode desencadear consequências sociais e econômicas significativas para Ribeirão Preto e região. O município, que ainda sente os efeitos da suspensão das operações da Usina Santa Elisa em Sertãozinho — que resultou na demissão de cerca de dois mil trabalhadores — pode assistir a um novo colapso no setor sucroalcooleiro.

O risco de falência das usinas notificantes representa uma ameaça direta ao emprego e à estabilidade econômica local.

TARIFAÇO

Combinado a esses fatores, o setor ainda enfrenta dificuldades decorrentes das tarifas impostas pelos Estados Unidos aos combustíveis, etanol e açúcar brasileiros, fruto das políticas comerciais da administração Trump, que afetam a competitividade das exportações nacionais.

Desde agosto, o país norte-americano impôs uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. Os demais mercados ainda não foram capazes de absorver o excedente.

A combinação de desafios jurídicos, operacionais e comerciais cria um ambiente de extrema vulnerabilidade para as usinas e para a cadeia produtiva regional.

As usinas solicitaram urgência no pagamento, estipulando um prazo improrrogável de 24 horas para quitação dos valores em aberto, sob pena de protesto dos títulos inadimplidos e execução extrajudicial da dívida, inclusive com a cobrança de encargos adicionais pelo atraso.

Procurada pela reportagem, a direção da ED&F Man Brasil, por meio de seu diretor Ricardo Man, afirmou que, em razão de cláusulas de confidencialidade previstas em seus contratos comerciais e devido a políticas internas de compliance, seus líderes estão impedidos de comentar o assunto. Até o momento, as usinas não responderam aos pedidos de esclarecimento sobre a notificação e a situação contratual.

2 mil

trabalhadores foram demitidos com o fechamento da Santa Elisa

10 de setembro

foi a data da notificação das usinas à distribuidora