Ensaios e Fatos: Isaac Antunes, Avelino, Câmara e Sindicato
Ensaios e preocupações na Câmara Municipal
, atualizado
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A recente controvérsia envolvendo o presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, Isaac Antunes (PL), e o Sindicato dos Servidores Municipais, representa um momento delicado para a política local, revelando tensões profundas dentro do legislativo e reflexos diretos na gestão das relações trabalhistas e institucionais do município.
Durante a votação da Reforma Administrativa, em 3 de setembro, o presidente Isaac Antunes protagonizou um episódio contundente ao atacar verbalmente o Sindicato dos Servidores Municipais e seu presidente, Valdir Avelino, atitude que muitos vereadores da base governista consideraram um exagero, ultrapassando o limite do respeito necessário no parlamento. A situação foi agravada por uma reação tumultuada da plateia, com os homens do principal comando sindical, sentados incitando mulheres sindicalistas a protestarem aos gritos, dificultando a continuidade do debate parlamentar e evidenciando um clima de confrontação. Apesar do prometido ajuizamento de ação judicial por parte do presidente sindical, o assunto parece ter se dissipado nos bastidores após negociações entre as lideranças sindicais e parlamentares, o que sugere que o episódio foi utilizado como um instrumento estratégico para marcar posição e chamar a atenção da comunidade para a pauta sindical. As prometidas ações judiciais serão interpostas pelo sindicato em relação a Reforma Administrativa, não mais a questões pessoais contra o presidente da Câmara como dito no dia do embate. Os dois chegaram a se falar por telefone após o episódio.
No entanto, o destaque maior não se limita ao conflito entre sindicato e presidência da Câmara. Há um sentimento crescente de inquietação entre os próprios vereadores governistas, que notam um comportamento incomum no presidente Isaac Antunes, manifestado por aparente preocupação além por sua impaciência e temperamento exacerbado, refletindo-se também na atuação de trato à sua equipe de assessores. Além disso, cresce a preocupação com investigações em curso sobre possíveis práticas irregulares, como rachadinhas, envolvendo parlamentares desta e da legislatura passada, como se tornou comum esse comentário na Câmara Municipal. A proximidade dessas apurações, somada à Operação Carbono Oculto — que revelou conexões entre prováveis doadores de campanha, empresários e a organização criminosa PCC, incluindo a atuação do banco digital BK Bank sediado em Ribeirão Preto, que prestou serviços à prefeitura e RIP MOBI — alimenta um ambiente de tensão e incerteza quanto ao futuro político local. Apesar de vereadores desconhecer os desdobramentos que devem vir adiante relacionada a essas investigações, justificar essas relações com empresários envolvidos, passa a ser complicado para o ambiente político o que intensifica a instabilidade no ambiente legislativo.
No que tange à atuação da Câmara, fica evidente uma seletividade preocupante na fiscalização e investigação interna. Casos de desvios de fundos eleitorais, inclusive referentes a campanhas, e supostas práticas de rachadinha parecem ser tratados com leniência quando envolvem membros da base dominante. Em contrapartida, a oposição é alvo mais frequente de processos éticos e disciplinadores, evidenciando uma prática política que privilegia interesses partidários e dificulta uma gestão transparente e justa. A ausência de processos internos robustos para coibir irregularidades afeta a credibilidade da Casa e transfere a competência para órgãos externos, como as Polícias Civil e Federal e os Ministérios Públicos Estadual e Federal que muitas vezes transcendem legislaturas.
Em suma, o que se verifica é um momento de crise de tensão institucional na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, refletido não só nos episódios específicos de confrontação com os sindicalistas, opositores, mas também na percepção de enfraquecimento das práticas éticas e no receio diante das investigações que se avizinham. Para a governança local, esse cenário demanda não apenas contenção de ânimos, mas um comprometimento efetivo com a transparência, o respeito aos direitos da manifestação com obrigação de modos e a reconstrução da confiança pública, passos imprescindíveis para que a Casa recupere sua relevância como espaço legítimo de debate e representação popular.
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Entenda o caso
No dia 8 de setembro, os vereadores rejeitaram por ampla maioria (16 a 3) a representação por quebra de decoro parlamentar contra Isaac Antunes, decorrente dos ataques verbais ao Sindicato dos Servidores durante a votação da Reforma Administrativa em 3 de setembro. A denúncia, apresentada por PCdoB e PSOL, se baseava na constatação de que Antunes extrapolou seu papel institucional ao ofender o sindicato enquanto a Reforma, criticada por ameaçar direitos e manter pontos inconstitucionais segundo o presidente sindical, seguia um parecer judicial que o Executivo usou para justificar as mudanças. A vereadora Perla Müller também criticou a ausência de audiência pública sobre o tema. Por sua vez, Antunes acusou o sindicato de tumultuar a sessão, reforçando o clima de conflito e desgaste nas relações entre legislativo e servidores municipais.
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Este episódio é mais que um mero confronto verbal: é sintomático das dificuldades políticas, institucionais e éticas enfrentadas pela Câmara Municipal de Ribeirão Preto, expondo desafios que transcendem a simples disputa partidária e refletem na governança e na qualidade da política local.