O casamento improvável que mudou a indústria no Brasil e na Argentina
, atualizado
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No final dos anos 1980, Brasil e Argentina enfrentavam uma tempestade econômica: inflação alta, oscilações cambiais e queda no poder de compra da população. A indústria automotiva sofria diretamente: custos de produção elevados, vendas em baixa e pouca margem para investir em novos modelos.
Foi nesse cenário que, em 1987, nasceu a Autolatina, uma joint venture que uniu duas rivais históricas — Ford e Volkswagen — sob o mesmo teto. A proposta era ousada: compartilhar plataformas, motores, peças, fábricas e até redes de distribuição para reduzir custos e ampliar o portfólio de produtos. Na prática, as marcas mantinham seus logotipos e identidade visual, mas os carros passaram a ter muito mais em comum do que o consumidor imaginava.
Como funcionava a parceria
O acordo previa divisões separadas para marketing e vendas, mas unificação de engenharia, compras e produção. Assim, um mesmo carro podia ganhar dois emblemas diferentes, com pequenas mudanças no design e no acabamento.
Exemplos emblemáticos:
Ford Verona e Volkswagen Apollo – irmãos de mecânica, mas com diferenças no estilo externo e nos detalhes internos.
Volkswagen Logus e Ford Escort – o Logus, lançado em 1993, era essencialmente um Escort Mk5 com design Volkswagen. Foi um dos últimos modelos da parceria. Além deles, Ford Versailles e VW Santana, Ford Pampa e VW Quantum também dividiram DNA.
Curiosidades que marcaram época
A produção foi dividida estrategicamente: a Ford em São Bernardo do Campo cuidava dos modelos médios e grandes, enquanto a Volkswagen, em Taubaté e outras unidades, produzia compactos e utilitários.
Algumas concessionárias chegaram a vender modelos das duas marcas lado a lado — algo impensável hoje. Mesmo com mecânica compartilhada, cada montadora buscava manter um "toque próprio" no acabamento e na suspensão, para preservar a sensação de identidade ao dirigir.
Por que acabou
Se no início a Autolatina ajudou ambas a enfrentar a crise, com o tempo as diferenças culturais e estratégicas pesaram. A Ford queria reforçar sua imagem global e investir em modelos próprios. Já a Volkswagen se sentia limitada por compartilhar tecnologias que preferia manter exclusivas.
Em 1995, a parceria terminou de forma amigável. Cada marca retomou seu caminho e reestruturou suas operações na América do Sul.
O legado
A Autolatina deixou uma marca inesquecível na memória de muitos consumidores. Para alguns, foi uma fase de carros confiáveis, manutenção simplificada e preços competitivos. Para outros, um período em que a identidade das marcas ficou embaralhada.
Hoje, a história da Autolatina é lembrada como um capítulo único da indústria automotiva — um casamento improvável entre gigantes que, por quase uma década, falaram a mesma língua para sobreviver. Para mais histórias como essa siga @autofocorp