A semente da mudança: o papel vital das ONGs na consciência ambiental
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FERNANDO DE LIMA CANEPPELE*
Decretos, leis e fiscalização são ferramentas essenciais para a gestão ambiental de uma cidade. No entanto, nenhuma mudança se sustenta a longo prazo sem o pilar mais fundamental: a consciência da população. De que adianta termos ecopontos se os cidadãos continuam descartando lixo em terrenos baldios? De que serve um plano de arborização se não houver engajamento no cuidado com as mudas?
É exatamente nessa lacuna crucial – entre a lei e o hábito – que o trabalho das Organizações Não Governamentais (ONGs) locais em Ribeirão Preto se revela indispensável. Elas são o verdadeiro "chão da fábrica" da educação ambiental.
Enquanto o poder público muitas vezes se concentra nas grandes estruturas e políticas, são essas organizações da sociedade civil que descem ao nível do bairro, da escola e do indivíduo. Elas traduzem a linguagem técnica da sustentabilidade para o dia a dia das pessoas, com uma agilidade e uma paixão que a burocracia raramente permite.
Em muitos locais são as ONGs que promovem mutirões de limpeza em córregos, que organizam oficinas de compostagem em centros comunitários, que vão às salas de aula falar sobre a importância do Aquífero Guarani ou que lutam incansavelmente pela proteção da fauna urbana. Elas são a voz persistente que nos lembra da nossa responsabilidade compartilhada pelo meio em que vivemos.
O grande diferencial desses grupos é a sua capilaridade. Elas nascem de cidadãos comuns que se recusam a aceitar passivamente um problema. Seja lutando pela preservação de uma área verde específica, promovendo o ciclismo como transporte sustentável ou ensinando crianças a criar hortas, as ONGs são a prova viva de que a iniciativa coletiva tem um poder de transformação imenso.
Esse trabalho, contudo, é árduo e muitas vezes invisível, sobrevivendo de doações escassas e do esforço incansável de voluntários. Elas são um patrimônio cívico da nossa cidade.
Apoiar essas organizações, seja com tempo, recursos ou simplesmente divulgando suas ações, não é um ato de caridade. É um investimento estratégico na construção de uma Ribeirão Preto mais consciente e resiliente. A mudança sistêmica que tanto almejamos começa com a semente da educação, e as ONGs são quem, pacientemente, a cultiva todos os dias.
*Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável