Ar-condicionado no 17ºC: o erro que queima seu dinheiro no verão

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Dezembro chegou e, com ele, aquele calor característico que todo ribeirão-pretano conhece bem. É a época em que o asfalto parece derreter e a sombra vale ouro. Ao chegarmos em casa, a reação é instintiva: pegamos o controle do ar-condicionado e baixamos a temperatura para o mínimo — geralmente 17ºC — na esperança de que o ambiente esfrie mais rápido.
Se você faz isso, tenho uma má notícia: você caiu em um mito que custa caro. Eficiência energética muitas vezes é confundida com privação, mas é o oposto: é usar a inteligência para ter conforto gastando menos.
Para entender o erro do "17ºC", precisamos entender o aparelho. O ar-condicionado não é uma torneira de água gelada que você abre mais ou menos. Ele funciona como um termostato. Quando ligado, ele sopra o ar a uma temperatura fixa de saída, independentemente se você configurou para 17ºC ou 23ºC.
Ao colocar no mínimo, você não diz para o aparelho "trabalhe mais rápido"; você diz "não pare de trabalhar até que a sala vire uma geladeira". Em uma cidade como a nossa, com temperaturas externas batendo mais de 35ºC, chegar aos 17ºC internos é uma tarefa hercúlea, muitas vezes impossível para a potência do equipamento. O resultado? O compressor trabalha em esforço máximo continuamente, devorando eletricidade, sem nunca atingir a meta irreal.
A matemática da energia é implacável. Estudos mostram que, para cada grau que você abaixa no termostato, o consumo de energia aumenta, em média, 7%.
Faça as contas: se a temperatura de conforto térmico humano gira em torno de 23ºC, e você teima em colocar no 17ºC, estamos falando de uma diferença de 6 graus. Isso pode representar um aumento de 40% na conta de luz gerada por aquele aparelho. Você está pagando quase o dobro para usar um casaco dentro de casa.
Qual é o segredo para sobreviver ao verão de Ribeirão sem falir?
Primeiro, ajuste o alvo. Configure seu aparelho para 23ºC. Ele vai gelar o ambiente na mesma velocidade, mas o compressor vai "descansar" (ou reduzir a rotação, nos modelos Inverter) assim que atingir essa temperatura agradável.
Segundo, limpe os filtros. Um filtro sujo bloqueia o fluxo de ar, forçando o motor. Limpá-los a cada 15 dias no verão leva cinco minutos e garante a eficiência. Por fim, isole o ambiente. Portas fechadas e cortinas ajudam a barrar o calor antes que ele entre.
A sustentabilidade, tema desta nossa coluna, começa nas pequenas decisões. A transição energética global envolve grandes usinas, mas a eficiência começa na ponta dos dedos, no botão do seu controle remoto. O sol de Ribeirão é de graça, mas a eletricidade para combatê-lo, não.

*Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável