Nosso lixo de cada dia: o desafio da reciclagem em Ribeirão Preto
, atualizado
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Diariamente, Ribeirão Preto gera mais de 700 toneladas de resíduos. É um volume monumental, um reflexo direto dos nossos hábitos de consumo. A grande questão que define a saúde ambiental da nossa cidade é: para onde vai tudo isso? A resposta, infelizmente, mostra que ainda temos um longo caminho a percorrer.
Embora a cidade conte com coleta seletiva porta a porta em muitos bairros, ecopontos e o trabalho fundamental de cooperativas, os números mais recentes indicam que nosso índice de reciclagem ainda é muito baixo, mal ultrapassando os 4%. Isso significa que cerca de 96% de tudo o que descartamos, incluindo plástico, papel, metal e vidro, segue para o aterro sanitário. Estamos, literalmente, enterrando matéria-prima valiosa.
O principal obstáculo não é a falta de estrutura, mas a baixa adesão e o descarte incorreto. Muitas vezes, o material que chega às cooperativas está contaminado com lixo orgânico, o que inviabiliza a triagem e desvaloriza o trabalho dos catadores. É um ciclo de desperdício que começa dentro da nossa cozinha.
Paralelamente, a cidade continua lutando contra os pontos viciados de descarte irregular. Terrenos baldios e cantos de avenidas transformados em lixões clandestinos são o sintoma visível de um problema cultural que a fiscalização, sozinha, não consegue resolver.
Então, como avançar? A solução passa por três pilares essenciais:
1. Educação Contínua: Precisamos de campanhas massivas e permanentes que ensinem de forma clara e objetiva como separar o lixo. O que é reciclável? O material precisa ser lavado? Onde e quando o caminhão da coleta seletiva passa no meu bairro? A informação precisa chegar a todos.
2. Valorização das Cooperativas: Os catadores e as cooperativas são os verdadeiros agentes ambientais da cidade. Fortalecer essa cadeia, oferecendo melhor infraestrutura, equipamentos e remuneração justa, é investir diretamente na ampliação da reciclagem e na inclusão social.
3. Responsabilidade Compartilhada: Não adianta esperar que apenas o poder público resolva. A mudança efetiva depende da indústria, que deve pensar em embalagens mais sustentáveis; do comércio, que pode facilitar a logística reversa; e de cada um de nós, ao consumir de forma mais consciente e separar corretamente nossos resíduos.
Enxergar o lixo não como o fim da linha, mas como o início de um novo ciclo, é o primeiro passo. A tarefa é complexa, mas a omissão tem um custo ambiental e social que já estamos pagando. A pergunta que fica é: estamos dispostos a assumir nossa parte nessa responsabilidade?
* Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável