Pesquisa indica a necessidade de redução do consumo de plástico descartável - Foto: Projeto Albatroz/Divulgação
Mobilização
Segundo Tatiana, a pesquisa deixa claro que a esmagadora maioria das pessoas que conhecem os projetos da Rede se informa, se interessa, vai buscar. E isso, para a gente, é muito importante porque reflete em uma mobilização de pessoas que querem contribuir de alguma forma na conservação.
Os dados são bastante animadores e mostram que a maioria das pessoas conhece a importância do oceano e demonstra preocupação sobre os impactos da atividade humana nos mares. Significa que a nossa mensagem está dando certo, que está chegando ao público, enfatiza.
Ronaldo Christofoletti, coordenador do Programa Maré da Ciência, da Unifesp, entende que o resultado da sondagem mostra a importância da educação de longo prazo. A educação é um processo que demora tempo. Ela não acontece da noite para o dia. Então, quando você tem uma rede com projetos que estão no território há mais de 20 anos, alguns há mais de 30 anos atuantes, as pessoas nessas regiões estão já apresentando uma melhoria no seu conhecimento, argumenta.
Desafios
A fundadora do Projeto Albatroz indicou que o desafio que se descortina agora é converter essa preocupação em engajamento prático, pensando em como essa pesquisa pode auxiliar como uma estratégia futura. Tatiana avalia que essa será uma segunda etapa. O estudo efetuado com o Programa Maré de Ciência foi a primeira ação. Serão feitos outros levantamentos ainda no meio do caminho e ao final da década do oceano, em 2030.
Mas com os resultados dessa primeira pesquisa, as ações da Rede Biomar serão dirigidas para ajudar as pessoas a trabalhar em atividades que revertam na conservação do oceano.
Para mim, ficou bastante claro que ainda falta clareza para as pessoas sobre o que fazer. Elas querem fazer alguma coisa mas, muitas vezes, o engajamento é baixo. Elas não sabem quais ações realmente são eficazes ou possíveis no seu cotidiano, explicou Tatiana.
Exemplos de ações positivas são reduzir o consumo de plástico descartável, procurar produtos mais sustentáveis, participar de mutirões de limpeza ou mutirões que revertem em uma ação coletiva em prol do meio ambiente. Para mim, a pesquisa refletiu isso e o Projeto Albatroz agora começa a buscar formas de indicar o caminho para as pessoas, disse Tatiana.
Adaptações
Ronaldo Christofoletti sugere que as estratégias têm que ser adaptadas aos diferentes segmentos da população que não têm conhecimento, não têm instrução. Ou seja, tem que haver uma adaptação a todas as populações, sejam adaptações em termos de idade, do linguajar, do conteúdo, regionais.
A gente precisa que esse conhecimento tenha significado no dia a dia dessas pessoas e que seja acessível para elas. Então, tem que realmente mapear todos os grupos, inclusive os que têm menos conhecimento ou nenhum conhecimento sobre o tema. É um processo em que a gente fala de baixo para cima e não de cima para baixo, avalia.
Ele esclarece que esse é um processo de conscientização construído com aquelas pessoas ou aquela comunidade, para entenderem qual é a realidade em que vivem, o que eles sabem, o que eles podem contribuir, quais são as dúvidas e, aí, a gente vai aos poucos ampliando a conversa sobre o tema.
Atitudes
Tatiana Neves assegura que o que dificulta as pessoas na tomada de atitudes em prol da conservação ambiental é que, muitas vezes, elas têm um certo distanciamento da responsabilidade individual, acreditando que cabe ao governo resolver.
Acentua que isso acaba criando uma sensação de impotência e de falta de ligação com o problema. Ela acredita que grandes empresas e governos devem se engajar na luta pela conscientização das populações e investir nesse processo.
Ressaltou que a pesquisa mostra a importância do investimento a longo prazo em educação ambiental. Isso para mim é chave, esclarece. Ela defendeu que os patrocínios devem ser de longo prazo, assim como faz a Petrobras com a Rede Biomar, para que haja, de fato, uma modificação de visão, de comportamento, de entendimento do público sobre a importância da conservação do oceano e como as pessoas podem se engajar nesse esforço.
Currículo Azul
Para Ronaldo Christofoletti, o estudo veio sacramentar a importância de se investir, valorizar, reconhecer o papel da educação no país e de se pensar o comportamento de cada pessoa, inclusive em um ano eleitoral, para a gente cobrar [no sentido de] que os nossos políticos apresentem respostas para a mudança do clima. Esse é um dever de cada cidadão e cada votante. Mas também a gente quer saber da conservação das espécies.
Por isso, Christofoletti aponta que há uma série de ações que passam do nível de indivíduos, de comunidade, até chegar a governos que são importantes.
Políticas públicas são essenciais, segundo ele, para essa conscientização da população. A gente precisa de políticas não só para o ambiente, mas para o que a gente chama de cultura oceânica, que é como as pessoas entendem a sua relação com o meio ambiente, no caso, com o oceano.
Ele referiu-se ao Currículo Azul, política pública que o Brasil está desenvolvendo, e que vem a ser a Educação Oceânica integrada ao currículo escolar brasileiro. Trata-se de uma política pioneira que ensina sobre a importância dos oceanos para a formação de cidadãos e profissionais mais conscientes sobre sustentabilidade e clima e será aplicada em todas as redes de ensino.
Eu digo o meio ambiente como um todo porque, apesar de a gente chamar cultura oceânica, tendo em conta que 70% do planeta são água, oceano, os ambientes terrestres, como a Amazônia, Caatinga, o Cerrado, o Pantanal, [eles] têm uma relação direta com o oceano também. Então, quando a gente fala do oceano, a gente está falando de toda a natureza, de todos os biomas. E o Currículo Azul faz isso, inclusive com esse olhar da mudança do clima.
Fortalecimento de políticas
Christofoletti disse, ainda, que fortalecer políticas públicas como esse projeto e os da Rede Biomar, patrocinados pela Petrobras, é essencial em todos os níveis municipal, estadual e federal, objetivando maior engajamento da população.
Na análise do coordenador do Maré de Ciência, há várias etapas nesse processo. Uma é o conhecimento, mas ele requer que se olhe também as emoções, para que essas levem a atitudes, ao engajamento.
É preciso, essencialmente, que todo mundo mude o comportamento em relação ao meio ambiente e à conservação marinha. Aí a gente começa a ter a transformação necessária dos indivíduos, opina.
Ele acredita que isso deveria ser inserido nas escolas desde os anos iniciais, inclusive a partir do maternal. Em todas as idades, em todos os níveis. Do ensino infantil, fundamental um e dois, técnico, médio, superior inclusive.
Rede Biomar
Criada em 2007, a Rede Biomar atua de forma integrada na pesquisa científica, conservação da biodiversidade e educação ambiental ao longo do litoral brasileiro. Com foco em espécies-chave e ecossistemas estratégicos, os projetos da rede combinam ações científicas, comunitárias e educativas, mostrando que a longevidade e a continuidade são diferenciais fundamentais para fortalecer a consciência ambiental e formar novas gerações de cidadãos oceânicos.
O Programa Maré de Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é uma iniciativa de referência nacional e internacional dedicada à popularização da ciência, educação oceânica e sustentabilidade. Criado em 2012, o programa desenvolve ações de pesquisa, comunicação e engajamento social que aproximam a sociedade do oceano e da ciência, promovendo uma cultura de responsabilidade ambiental e cidadania oceânica.
O programa conecta escolas, comunidades, universidades, gestores públicos e o setor produtivo para coproduzir conhecimento e fortalecer políticas públicas voltadas à conservação marinha e à resiliência climática.