No Rio, Casa de Rui Barbosa recebe acervos de autores indígenas

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No Rio, Casa de Rui Barbosa recebe acervos de autores indígenas
No Rio, Casa de Rui Barbosa recebe acervos de autores indígenas - Foto: Agência Brasil
No Rio, Casa de Rui Barbosa recebe acervos de autores indígenas - Foto: Agência Brasil

A Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) (foto) oficializa nesta sexta-feira (28), às 19h, no Rio de Janeiro, a doação de acervos de escritores indígenas, que, pela primeira vez, passam a integrar o patrimônio da instituição. A cerimônia será durante a 1ª Festa Literária da Fundação Casa de Rui Barbosa (FliRui) e contará com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes.

A incorporação dos materiais reforça a política de preservação da fundação e reconhece o papel central de autores indígenas na literatura brasileira contemporânea. Os acervos passam a compor o Arquivo-Museu de Literatura Brasileira, setor responsável por salvaguardar a produção literária nacional.

A Casa de Rui Barbosa faz hoje o que sempre esperamos das instituições públicas: coragem para abrir espaço, rever narrativas e acolher a diversidade que molda o Brasil. Ao incorporar os acervos de três grandes autoras e autores indígenas, a fundação sinaliza que a memória literária do país precisa refletir todas as vozes que a constroem. Este é um passo firme, necessário e profundamente simbólico, disse a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Munduruku

Entre os doadores está Daniel Munduruku, escritor, educador e ativista do povo Munduruku, autor de mais de 70 livros. Ele entrega itens como sua primeira máquina de escrever, fotografias, cartas, desenhos e exemplares originais de primeiras edições.

Também integra o conjunto a escritora, poetisa e fotógrafa Márcia Kambeba, do povo Omágua/Kambeba, que doa álbuns fotográficos produzidos em aldeias, desenhos autorais baseados em grafismos tradicionais, poemas inéditos e objetos como maracá, cuia e bordados feitos por ela.

Esses ambientes históricos tornam-se mais completos quando acolhem vozes ancestrais que escrevem a partir de seus saberes, memórias, vivências e cosmologias. Ao receber autores indígenas, suas narrativas, grafismos e modos de ver o mundo, ampliam-se horizontes, desconstroem-se estereótipos e fortalecem-se outras formas de compreender a relação entre humano e não humano, território e bem-viver, disse Márcia Kambeba.

Escritora indígena

Outra doação é feita por Eliane Potiguara, primeira escritora indígena do Brasil e fundadora do Grumin. Ela entrega cartas recebidas e enviadas ao longo de sua trajetória, manuscritos, materiais de pesquisa, registros de atuação política e comunitária, pôsteres, diplomas e documentos que testemunham décadas de participação no movimento indígena.

O presidente da FCRB, Alexandre Santini, afirma que a chegada desses acervos representa um gesto profundo de reconhecimento e uma mudança institucional.

Ao acolher as culturas indígenas como protagonistas do pensamento, da memória e da criação literária, abrimos caminho para uma compreensão mais ampla do país e do povo brasileiro. Esse processo foi construído com muito cuidado, respeitando um protocolo de consultas aos indígenas e incorporando outras formas de conceber e preservar a ideia de acervo, assegurou Santini.

A programação da FliRui inclui atividades dedicadas às culturas originárias, como rodas de histórias, narrativas tradicionais e mediações para o público infantil, além de mesas sobre línguas indígenas, processos criativos e modos de narrar o mundo. O evento será encerrado com uma conferência de Ailton Krenak sobre imaginação, arte e cinema.

Com o tema Literatura e Democracia, a Fundação Casa de Rui Barbosa celebra a diversidade literária no ano em que o Rio de Janeiro é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Capital Mundial do Livro. A iniciativa pretende fortalecer a cidade como território de leitura, memória e criação.