No olho do furacão, RP concentra financiamento do crime organizado

Região é sede de três das quatro usinas administradas pelo PCC, segundo denúncia do Gaeco e Receita Federal

, atualizado

Compartilhar notícia

Um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que tomou - literalmente - de assalto o setor agro de Ribeirão Preto. Assim pode ser descrita a chamada Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto após a Receita Federal identificar que um núcleo comandado por membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) utilizava a cadeia sucroenergética para financiar as atividades do crime organizado.

As investigações miraram a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor sucroalcooleiro paulista, em atividades ilícitas que teriam movimentado aproximadamente R$ 54 bilhões.

Segundo a denúncia, o esquema começava nas usinas de municípios da região e passava por distribuidoras, refinarias, transportadoras e armazéns de todo o Estado até chegar a postos de combustíveis e lojas de conveniência paulistas, desaguando os recursos obtidos ilicitamente para lavagem de dinheiro na fintech BK Bank — sucursal Ribeirão Preto.

O grupo criminoso teria recebido dinheiro de distribuidoras e postos de combustíveis e aplicado em fundos de investimento e na compra de imóveis e empresas, segundo a investigação. A Receita indicou que apenas em São Paulo quatro usinas foram compradas pelos fundos envolvidos com a organização criminosa e outras duas eram fruto de parceria ou estavam em processo de aquisição.

FINTECH

A BK Bank aplicava os valores em fundos de investimento, via Banco Digital, além de adquirir imóveis na planta, veículos de luxo, casas e outros negócios, custeando também a vida pessoal dos investigados.

Vale destacar que a "sucursal" de Ribeirão Preto movimentou aproximadamente 78% de toda a atividade ilícita, número muito superior ao da matriz do BK Bank, situada na famosa Faria Lima, em São Paulo. As informações são do Ministério Público.

GAECO

O Gaeco identificou Mohamad e Silva como líderes de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.

Além da aquisição de usinas, o grupo também assediava proprietários de terras cultivadas com cana, oferecendo valores bem acima do mercado no arrendamento, muitas vezes em dinheiro vivo. A prática chamou a atenção das demais usinas, que começaram a perder fornecedores.

A terceira fase do esquema consistia na adulteração do etanol: a produção das usinas era enviada para distribuidoras como a Rede Sol Fuel, onde o combustível era misturado com metanol importado ilegalmente pelo Porto de Paranaguá (PR).

O produto adulterado era então vendido como etanol puro. A Rede Sol Fuel Distribuidora S.A. também é alvo das investigações.