Tentaram me dar cargos, mas jamais aceitaria. Não acredito nesse governo

Sucesso nas redes sociais, Hágara do Pão de Queijo fala sobre futuro político, oposição e redes sociais

, atualizado

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Hagara do Pão de Queijo em sua loja: suplente virou ator político em Ribeirão
Hagara do Pão de Queijo em sua loja: suplente virou ator político em Ribeirão - Foto: Reprodução
Hagara do Pão de Queijo em sua loja: suplente virou ator político em Ribeirão - Foto: Reprodução

Conhecido por seu jeito direto e por vídeos com humor sarcástico nas redes sociais, Hágara Ramos, o Hágara do Pão de Queijo, primeiro suplente do vereador do PL, é uma espécie de mosca na sopa da política de Ribeirão Preto. Alheio ao próprio partido, que é base de apoio ao prefeito Ricardo Silva (PSD), ele tem denunciado, semana após semana, mazelas da administração pública e causado, reconhecidamente, incômodo – tanto ao governo quando, às vezes, ao próprio partido.

Proprietário de um empório especializado em produtos à base de pão de queijo, ele afirma não depender da política e se manter com o seu negócio. Tem intensificado, entretanto, os contatos políticos – durante essa entrevista, na quarta (23), estava se deslocando para São Paulo, onde teria encontro com lideranças estaduais.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Ribeirão, Hágara – que teve 2.066 votos nas últimas eleições - falou abertamente sobre a possibilidade de disputar uma vaga de deputado nas próximas eleições, sua postura combativa e até sobre o apelido “Água de Salsicha” dado ao prefeito. Também afirmou, categoricamente, que recebeu oferta para que indicasse aliados para cargos públicos na administração – oferta que recusou “por não acreditar nesse governo”.

A seguir, os principais trechos:

JORNAL RIBEIRÃO: Você pretende mesmo disputar uma vaga como deputado?

Hágara: Em relação à possibilidade de me lançar pré-candidato a deputado, sou bastante transparente — inclusive falei isso abertamente ao próprio Isaac [Antunes, presidente do PL]. Tenho, sim, a intenção de disputar uma vaga no próximo ano. Estou me articulando da melhor forma possível e analisando os cenários, pois é necessário considerar diversos fatores. Mas essa é, hoje, a minha vontade. Continuo desenvolvendo meu trabalho, independentemente de me candidatar ou não. Minha postura não irá mudar, embora eu reconheça que é preciso uma articulação mínima.


JR: Caso eleito, sua postura muda?

Hágara: Com ou sem mandato, manterei a mesma conduta. Não dependo da política para viver. Atuo conforme o que considero certo, pautado nos princípios e valores que recebi de meus pais. Com mandato ou sem, não defendo cargos, mas sim as pessoas que confiaram em mim por meio do voto. Portanto, ainda que não esteja em um cargo eletivo, minha postura permanecerá a mesma.

JR: Como lida com as críticas sobre o uso de apelidos e ironias em seus vídeos? Não se pode negar que o “Água de Salsicha” pegou...

Hágara: Utilizo o humor como uma ferramenta. Minhas críticas são direcionadas aos problemas da cidade, nunca à pessoa. Sempre produzi meus vídeos com um tom leve, justamente para melhorar a retenção do público.
O apelido “Água de Salsicha” tem um tom irônico, inspirado em políticos de outras regiões que adotam esse tipo de abordagem. Sempre tratei, por exemplo, o ex-prefeito Duarte Nogueira com uma crítica sarcástica, buscando manter o espectador até o final do vídeo. Não vejo problema nisso.

JR: Você chegou a ser convidado para assumir cargos na administração?

Hágara: Sim, recebi propostas de cargos — inclusive como resposta às minhas cobranças, que são fundamentadas. No entanto, recusei. Primeiro, porque não dependo da política. Segundo, porque entendo que os cargos devem ser ocupados por pessoas técnicas. Terceiro, porque não acredito na atual gestão do prefeito Ricardo Silva. Portanto, não faria sentido aceitar um cargo ou indicar alguém.
Além disso, fica claro que a intenção era me silenciar. Oferecer cargos para que eu parasse de criticar vai contra meus princípios e valores, como já afirmei.

JR: Você está no PL, partido que integra a base de apoio ao prefeito Ricardo Silva, que você critica fortemente. O presidente da Câmara, Isaac Antunes, é do seu partido e tem diversas indicações no governo. Como concilia isso?

Hágara: Todo candidato precisa estar filiado a um partido. Quando o Isaac anunciou o apoio do PL ao prefeito Ricardo, deixou claro que cada um teria liberdade para seguir ou não. Tanto que, durante a campanha, jamais pedi votos para o Ricardo. E, como disse anteriormente, independentemente de quem fosse o prefeito, eu continuaria criticando os problemas da cidade.
Se o próprio Isaac fosse prefeito, eu também apontaria os erros. O importante é ter uma legenda, pois não há candidatura sem partido — e todos os partidos têm suas contradições. Acredito que há espaço para fazer oposição, e me considero, hoje, bastante independente. E quanto à oposição, mesmo estando no PL, partido da base do governo?
Isso não interfere. Poderia ser qualquer prefeito, inclusive o próprio Isaac ou outro integrante do partido — se estivesse fazendo o que o Ricardo faz, eu o criticaria da mesma forma.

JR: Você vê as redes sociais como principal canal político?

Hágara: Com certeza. Não venho da rádio ou da televisão. As redes sociais são mais acessíveis, econômicas e alcançam um público maior. Hoje em dia, até guerras são travadas por meio de narrativas nas redes.
Vejo as redes sociais como o principal meio de comunicação atual. São práticas, de baixo custo e com enorme alcance. Acredito que, daqui em diante, dominarão tudo: campanhas eleitorais, comunicação institucional e até embates políticos.

JR: E sobre o prefeito Ricardo Silva, qual é sua avaliação?

Hágara: Vejo o prefeito como alguém voltado à autopromoção. Não realiza aquilo que promete. Minha crítica não é pessoal, mas relacionada aos problemas da cidade.
A percepção que tenho é a de um gestor incoerente, que foca mais em promover sua imagem do que em realizar ações concretas em benefício da população.