Mesmo com carros híbridos, vereadores gastam mais combustível
Aumento no consumo foi mais significativo em veículos sem adesivos que identificam a frota oficial
, atualizado
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A Câmara de Ribeirão Preto gastou mais com combustível nos quatro primeiros meses de 2025, mesmo com a compra de 11 veículos “híbridos”, ou seja, que contam com motores elétricos auxiliando os motores a combustão. Levantamento exclusivo, feito pelo Jornal Ribeirão, aponta que os carros mais “gastões” são aqueles em que não há adesivos para identificação da frota oficial.
Dos 22 gabinetes, 11 deles contam com veículos novos, comprados por R$ 1,6 milhão. Os modelos da marca CaoChery, com tecnologia Pro Hybrid, tiveram gastos com combustível no 1º quadrimestre do ano de 2025 no valor total de R$ 32.162,15, média de R$ 2.923,83 por gabinete. O montante é 434,70% maior que a média dos veículos mais antigos da Câmara. Nove veículos da frota mais antiga totalizaram R$ 7.403,10 em gastos, média de R$ 925,39. Um gabinete não registrou despesas no período e dois dispensaram o uso do veículo oficial.
O campeão de gastos com combustível foi o gabinete do vereador Mauricio Vila Abranches (PSDB), com um gasto de R$ 5.320,98. Não é a primeira legislatura em que o gabinete do vereador apresenta o maior consumo dentre os outros. Os gabinetes dos vereadores Lincoln Fernandes (PL), Franco Ferro (PP), Mauricio Gasparini (União Brasil), Jean Corauci (PSD) e Paulo Modas (PSD) somam em média R$ 3,2 mil entre eles, enquanto os demais vereadores não ultrapassaram a faixa de R$ 3 mil.
Sem adesivo
Os veículos a “paisana”, sem identificação do brasão oficial do município são os que mais gastam combustível. São os dos gabinetes dos vereadores Maurício Vila Abranches (PSDB), Lincoln Fernandes (PL), Jean Corauci (PSD), Franco Ferro (Progressistas), Gasparini (UNIÃO) e Paulo Modas (PSD). Exceto o gabinete do vereador Matheus Moreno (MDB), que utiliza veículo oficial sem identificação apresentou gasto de R$ 699.
Uma resolução de 2017 determina o uso de adesivos na frota da Câmara, mas a medida vem sendo descumprida desde a aquisição dos novos veículos.
Os gabinetes que dispõem de veículos novos devidamente identificados conforme a Resolução 26/2017 apresentam gastos mais contidos em relação aos veículos novos cujo vereadores preferem não identificar. Entre esses estão os veículos do vereador e presidente da Casa, Isaac Antunes (PL), que utiliza o mesmo carro para o gabinete e a presidência, Brando Veiga (Republicanos), Danilo Scochi (MDB), Judeti Zilli (PT) e André Rodini (Novo), grupo que fecha os veículos novos adquiridos em 2023.
Entre os veículos mais antigos, o gabinete do vereador Delegado Martinez (MDB) foi o que mais gastou com combustível: R$ 1.792,21. Já o gabinete da vereadora Perla não teve gastos com combustível durante os 4 meses analisados e os vereadores Igor de Oliveira (MDB) e Junin Dêdê (PL) não utilizam veículos oficiais; os veículos de frotas anteriores estão todos identificados e adesivados.
Compra dos veículos novos foi polêmica
A Câmara adquiriu veículos sedans Caoa Chery Arrizo 6 Pro Hybrid, investindo R$1,6milhão na compra de 11 unidades, adquiridas por R$ 136.940 cada, por meio da concessionária GT8 Veículos e Peças Ltda.
O sistema híbrido 48V utiliza um gerador em substituição ao alternador tradicional para gerar energia, mais economia além de fornecer torque e potência extras ao motor de combustão, contribuindo para maior eficiência.
A compra aconteceu na gestão do vereador Franco Ferro, então presidente da Casa, gerou polêmica devido ao valor investido (R$ 1,6 milhão). A aquisição foi realizada por pregão eletrônico, e a empresa vencedora foi a GT8 Veículos e Peças Ltda., de Franca. Os carros, destinados ao uso dos vereadores, foram criticados por serem considerados caros e inadequados em relação a outros modelos.
A polêmica aumentou quando a imprensa descobriu que os veículos entregues inicialmente pela GT8 para a Câmara eram brancos e foram repintados para atender ao edital cujo Termo de Referência exigia veículos na cor preta. Após meses de idas e vindas, GT8 e Câmara chegaram a um acordo com desconto no pagamento, e os veículos foram aceitos.
Questionamentos
O Jornal Ribeirão entrou em contato com os vereadores que apresentaram maior gasto de combustível e que ainda utilizam veículos sem identificação. O veículo comum a esses casos não possui identificação oficial conforme a Resolução 26/2017. A reportagem destacou o elevado gasto com combustível atribuído a alguns gabinetes, e questionou fatores como possíveis razões para o alto consumo, o uso de tecnologia híbrida avançada — cuja eficiência costuma ser maior —, a ausência de identificação oficial do carro e o impacto do fato de o veículo não pernoitar no estacionamento da Câmara durante fins de semana e feriados, levantando hipóteses de deslocamentos adicionais ou uso fora do horário de expediente.
Vereadores responderam
O vereador Lincoln Fernandes alegou que é vereador 24 horas ao dia, inclusive as madrugadas, fim de semanas e feriados.
O vereador Mauricio Gasparini respondeu a reportagem que exercício da função de vereador exige presença constante nos bairros da cidade, principalmente no meu caso, que atuo intensamente em todas as regiões do município, relatou ainda que é Presidente do Parlamento Regional Metropolitano de Ribeirão Preto, atividade que demanda deslocamentos para a Capital do Estado e que o gasto referente a combustível na Câmara Municipal é flexível e de acordo com a necessidade de cada vereador, sendo que todo o consumo é justificado por meio de relatórios diários e que viatura oficial tem identificação garantida pela placa azul, que caracteriza o veículo como pertencente ao poder público.
Jean Corauci, Franco Ferro, Paulo Modas e Mauricio Vila Abranches não responderam aos questionamentos da reportagem
Cientista político vê ‘cultura de gastos’
Para o cientista político e professor Luiz Rufino, a classe política brasileira tem uma cultura de “esbanjar” recursos públicos.
“Não importa se o carro é econômico ou tecnológico, ele sempre vai consumir mais, porque a cultura política brasileira não é movida por gasolina ou etanol, mas por privilégios e abusos. O vereador vai ao salão de cabeleireiro no carro oficial? Claro, faz parte do roteiro. Os gastos exorbitantes com combustível contradizem qualquer promessa de eficiência? Normal, tudo é uma performance calculada para reafirmar que *aqui, quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”, analisa.