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A Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto chega, mais uma vez, como um dos maiores orgulhos culturais da cidade. Nascida em, a FIL cresceu ano após ano até se consolidar como um dos principais eventos literários da América Latina. Sua trajetória é motivo de celebração: ao longo de quase 25 anos, já trouxe à cidade centenas de escritores, pensadores e artistas, promoveu debates fundamentais e transformou a Praça XV de Novembro em grande arena cultural.
Mais do que números, a Feira construiu um patrimônio simbólico. É um espaço de encontro entre gerações, onde o leitor iniciante pode dividir a mesma mesa que mestres da literatura; onde a criança que folheia seu primeiro livro é lembrada de que o conhecimento cabe nas mãos; e onde professores encontram repertório e inspiração para manter viva a chama da curiosidade nos alunos. A FIL deu voz à literatura regional, abriu espaço para escritores que nasceram e vivem no interior e aproximou o público de nomes consagrados da cultura brasileira e internacional, reafirmando o livro como instrumento de cidadania.
Ribeirão Preto, cidade tantas vezes associada apenas à pujança do agronegócio, tem na Feira do Livro um contraponto essencial: um símbolo de que desenvolvimento também se mede pela circulação de ideias, pelo estímulo ao pensamento crítico e pela valorização da imaginação. Durante dez dias, a cidade se transforma em palco da palavra escrita, oferecendo oficinas, debates, lançamentos, saraus e atividades de formação. É nesse momento que se prova, com clareza, que a leitura é também espetáculo, movimento social e construção coletiva.
Mas, passada a festa, resta o desafio. A leitura não pode ser lembrada apenas em junho, quando a Praça XV se enche de estandes, quando os autores são celebrados em auditórios lotados ou quando as escolas organizam caravanas para prestigiar a programação. Incentivar o hábito de ler é uma tarefa permanente, que exige políticas públicas consistentes e investimentos distribuídos ao longo do ano. O impacto da FIL só se completa se for capaz de reverberar para além do calendário oficial.
É preciso fortalecer bibliotecas escolares e comunitárias, ampliar os acervos existentes e garantir o funcionamento pleno desses equipamentos culturais. É necessário apoiar clubes de leitura, feiras locais, rodas de conversa, encontros literários em bairros periféricos e projetos que unam a literatura a outras expressões artísticas. Também é urgente investir na formação continuada de professores, pois são eles que diariamente abrem as portas da leitura para milhares de crianças e jovens. Incentivar editoras independentes, estimular escritores iniciantes e criar linhas de fomento para produções locais são caminhos que podem transformar o hábito da leitura em parte do cotidiano de toda a comunidade.
A Feira é um marco, mas não pode ser um ponto isolado. Ela deve ser entendida como farol de uma política de leitura ampla, capaz de atravessar gerações e reduzir desigualdades. O livro abre horizontes, constrói cidadania e humaniza relações sociais – e uma cidade que abriga um evento literário dessa dimensão precisa assumir, também, o compromisso cotidiano de fazer da leitura uma prática acessível e constante.
Celebrar a FIL é celebrar o livro, mas também é assumir a responsabilidade de mantê-lo presente em cada bairro, em cada escola, em cada família. Que a festa da palavra não se limite a alguns dias de agenda cultural. Que seja todos os dias, todos os meses, em todos os cantos. Só assim, Ribeirão Preto honrará plenamente o legado da Feira Internacional do Livro e garantirá que as próximas gerações não apenas frequentem o evento, mas vivam a leitura como parte essencial de suas vidas.