O que fazer com as empresas municipais de Ribeirão Preto?

Coderp, RP Mobi e COHAB seguem dando prejuízos milionários ao município

, atualizado

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Durante décadas, empresas públicas como a Coderp, a RP Mobi e a Cohab simbolizaram o dinamismo e a ambição de uma Ribeirão Preto que crescia a passos largos. Eram estruturas criadas para atender áreas estratégicas — tecnologia, mobilidade e habitação — e demonstravam a ousadia administrativa de um município que queria ser referência no interior do Brasil. No entanto, o tempo passou, a cidade mudou, e essas estatais ficaram pelo caminho.

Dados recentes mostram que essas três empresas acumularam, juntas, mais de R$ 30 milhões em prejuízos apenas em 2024. No acumulado total, o déficit consolidado ultrapassa a casa dos R$ 600 milhões. É um número alarmante, especialmente em um cenário que exige responsabilidade fiscal, transparência e eficiência na gestão pública.

A permanência dessas empresas, como estão hoje, representa mais do que uma ineficiência: é um risco financeiro e institucional. A prefeitura de Ribeirão Preto precisa decidir, com urgência, o que pretende fazer com elas. Manter estruturas inchadas, deficitárias e politizadas não é compatível com uma administração moderna e comprometida com o interesse coletivo.

A Coderp é um exemplo emblemático. Envolvida na Operação Sevandija, tornou-se símbolo de má gestão e uso político da máquina pública. Durante aquele escândalo, ficou escancarado como a empresa foi transformada em plataforma de indicações e favorecimentos, abandonando sua vocação técnica. Mesmo após anos, a Coderp ainda não conseguiu retomar a credibilidade e o protagonismo que já teve.

A RP Mobi, por sua vez, se consolidou como um verdadeiro cabide de empregos. A opacidade com que opera, aliada à falta de resultados concretos, levanta questionamentos sobre sua real necessidade. A empresa, que deveria liderar a reestruturação da mobilidade urbana, hoje não apresenta projetos robustos, tampouco indicadores públicos de desempenho. Seu impacto na vida do cidadão é, no mínimo, questionável.

Já a Cohab vive um processo silencioso de esvaziamento. Criada para combater o déficit habitacional e estimular o crescimento urbano ordenado, há muito deixou de cumprir sua missão. Sem novos projetos relevantes, sem inovação e sem protagonismo, a empresa hoje parece existir apenas para manter uma estrutura que perdeu sua razão de ser.

Este editorial não defende, necessariamente, a extinção pura e simples dessas empresas. Mas é urgente que a administração municipal apresente uma proposta clara: reestruturar, conceder, fundir ou encerrar. O que não pode continuar é a manutenção inercial de estruturas que consomem recursos públicos sem oferecer retorno equivalente à sociedade.

Ribeirão Preto já mostrou que pode ser modelo de gestão e inovação. Mas para isso, é preciso coragem política e vontade administrativa. O momento exige decisões duras, embasadas em dados e voltadas para o futuro — não para acomodar interesses de grupos ou perpetuar estruturas ultrapassadas.

As empresas públicas, quando bem geridas, podem ser instrumentos poderosos de transformação. Mas quando se tornam reféns de jogos políticos ou da burocracia improdutiva, tornam-se fardos. Ribeirão Preto não pode mais se dar ao luxo de carregar esse peso.

A cidade espera, e merece, respostas. A hora de decidir é agora.