A polícia precisa ser madura para dialogar com a sociedade
Natural de Ribeirão, novo comandante regional da PM fala em fortalecer o diálogo, investir em tecnologia no combate ao crime
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O Comando de Policiamento do Interior (CPI-3), com sede em Ribeirão Preto, tem um novo comandante. O coronel da Polícia Militar Rodrigo Quintino assumiu o cargo há pouco mais de uma semana, substituindo Paulo Henrique Beltrame, transferido para o CPI-5, em São José do Rio Preto. A meta é ampliar o trabalho e aumentar melhorar ainda mais os índices do combate à criminalidade – que já considera próximo ao de países desenvolvidos.
E nova função tem gosto de memórias da infância. Natural de Ribeirão Preto, Quintino completou 52 anos recentemente e considera sua nomeação um presente de aniversário. Ingressou na Polícia Militar há 33 anos, foi aspirante a oficial dois anos depois e, em 2022, chegou ao posto de coronel.
Botafoguense fanático, daqueles que sempre acompanhou o time, celebrou a missão de comandar o policiamento na cidade em que nasceu – o que chamou de grande honra e responsabilidade – e falou sobre os objetivos do batalhão para os próximos anos e também sobre a emoção de comandar a PM na cidade em que nasceu. Confirma a íntegra da entrevista.
JORNAL RIBEIRÃO: O senhor é o novo comandante do CPI-3, mas, além disso, é comandante da PM da região em que nasceu. É especial?
CORONEL RODRIGO QUINTINO: Voltar para Ribeirão, neste momento da carreira, é realmente um presente. Foi o melhor presente que recebi. Uma honra e uma imensa responsabilidade, ao mesmo tempo, comandar a região que tem a sede do comando regional onde nasci e fui criado. Espero corresponder a esse presente e retribuir em serviço para nossa cidade e região.
Como avalia sua trajetória na Polícia Militar?
Minha trajetória na Polícia Militar não foi linear. Atuei em policiamento de área, no Corpo de Bombeiros, na Defesa Civil, trabalhei no Palácio dos Bandeirantes, dirigindo a Defesa Civil do Estado, e depois retornei a Ribeirão em função de questões familiares. Aqui, comandei o 3º Batalhão de Policiamento, o que também foi uma grande experiência. Aprendi que ninguém faz nada sozinho: sempre contei com equipes excepcionais.
O CPI-3 cobre uma área muito grande. Quais são os principais desafios?
Sim, o CPI-3 é um dos maiores comandos regionais do Estado. São 93 cidades sob nossa responsabilidade, incluindo regiões como Franca, Sertãozinho, Barretos, Araraquara, São Carlos e Ribeirão Preto. A população cresceu muito, assim como os problemas sociais, e isso reflete diretamente na segurança pública. Mas estou animado e confiante de que faremos um excelente trabalho.
E quanto ao contingente policial, o efetivo é suficiente?
Hoje, temos cerca de 3.500 policiais em atividade, contra um efetivo previsto de 4 mil. É um número que nos permite enfrentar as demandas, mas, claro, sempre precisamos de reforços. O governo tem se empenhado em recompletar o quadro. Inclusive, temos 100 alunos em formação em Ribeirão, que já participaram do estágio na Festa do Peão de Barretos.
Os números recentes mostram aumento nos casos de estupro, crime que geralmente ocorre em ambiente doméstico. Como a Polícia Militar atua diante disso?
A PM conta com a Diretoria de Polícia Comunitária e Direitos Humanos, que coordena ações de prevenção em todo o Estado. Uma das linhas de atuação é justamente o enfrentamento à violência sexual. Acreditamos que o aumento nos registros se deve também ao maior encorajamento das vítimas em denunciar. É fundamental que a sociedade se mobilize. O telefone 181 está à disposição para denúncias anônimas e o 190 para casos de emergência.
Tivemos recentemente a grande operação contra o PCC, envolvendo até o setor financeiro na Faria Lima. Como está o combate ao crime organizado na região?
O crime organizado é estruturado e complexo, por isso exige integração entre Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Receita Federal e governos estadual e federal. O foco é atingir o poder financeiro dessas organizações. Na semana passada, participamos de uma operação de grande êxito, em sintonia com as diretrizes do governador Tarcísio e do secretário Derrite. Posso garantir que, em Ribeirão, não será diferente: não haverá trégua contra o crime organizado.
A percepção de segurança da população nem sempre acompanha os bons índices. Como melhorar isso?
Ribeirão Preto e região apresentam números muito positivos, comparáveis a países desenvolvidos. Mas a sensação de segurança é subjetiva. Por isso, estamos investindo em tecnologia, como sistemas de câmeras com reconhecimento facial, integrados à Polícia Civil, Federal e Militar. Um exemplo foi a Festa do Peão de Barretos, em que o uso de tecnologia reduziu furtos de celulares em quase 50%. É a união de esforços — Prefeitura, organizadores, polícias e imprensa — que faz a diferença.
A PM também tem enfrentado confrontos diretos, como o caso recente em Ribeirão. Como lidar com essas situações?
Ninguém deseja a morte de ninguém. Mas, quando o criminoso atenta contra a vida dos policiais, a resposta precisa ser proporcional. Aproveito para destacar a dedicação da tropa em nossa região. Temos policiais extremamente qualificados, comprometidos e respeitados. Meu pedido a eles é que tratem sempre o cidadão de bem com respeito e cordialidade, mas que sejam firmes contra o crime.
O senhor pretende ser um comandante de diálogo?
Sem dúvida. Minhas portas estão abertas para demandas, críticas ou sugestões. A polícia precisa estar madura e preparada para conversar com a sociedade, pesquisadores e imprensa. Só assim construiremos um trabalho transparente e de qualidade.
E quanto ao uso de câmeras — tanto de monitoramento urbano quanto as corporais nos policiais?
Ribeirão tem um sistema de câmeras de referência no Estado, integrado às polícias. A Prefeitura já sinalizou a ampliação dessa parceria. Quanto às câmeras corporais, sou totalmente favorável. Elas protegem tanto o policial quanto o cidadão, garantindo transparência. Temos casos concretos em que as imagens comprovaram a legalidade da ação policial.
Coronel, para encerrar, quais serão as marcas do seu comando?
Transparência, integração e firmeza contra o crime. Quero fortalecer o diálogo com a sociedade, apoiar minha tropa, investir em tecnologia e, acima de tudo, garantir que o cidadão de bem se sinta seguro. Para mim, voltar a Ribeirão e poder contribuir neste momento é uma honra imensa.