Pedalar em Ribeirão Preto: o desafio de conectar os caminhos

Quem pedala em Ribeirão Preto, seja por lazer ou necessidade, conhece a sensação dupla: o prazer da liberdade e o alerta constante da insegurança. Em uma cidade com uma geografia majoritariamente plana, que seria um convite natural ao uso da bicicleta, ainda tratamos esse meio de transporte mais como um item de fim de semana do que como uma solução real para a mobilidade do dia a dia.

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A questão não é a falta de ciclovias, mas a falta de uma rede cicloviária. Hoje, temos trechos espalhados pela cidade, como "ilhas" de asfalto vermelho que, muitas vezes, não se conectam a destinos essenciais. Uma pista que começa em um ponto e termina abruptamente em outro, forçando o ciclista a se arriscar entre os carros, não cumpre sua função. Ela é um convite incompleto.

Enquanto isso, o trânsito se adensa, o custo com combustível e transporte por aplicativo pesa no bolso, e a nossa qualidade do ar nos lembra periodicamente que o modelo atual tem um preço alto. Promover a bicicleta não é um discurso idealista; é uma necessidade prática e inteligente.

Os benefícios são claros e imediatos. Para o cidadão, significa economia no orçamento, mais saúde e menos estresse. Para a cidade, representa um trânsito mais humano, menos poluição sonora e atmosférica, e a otimização do espaço urbano - onde se estaciona um carro, cabem várias bicicletas.

Então, o que falta para darmos o próximo passo?

O principal obstáculo é a segurança. É preciso mais do que tinta no chão; é necessário um desenho urbano que proteja quem pedala, com ciclovias bem sinalizadas, fisicamente segregadas do tráfego motorizado e com manutenção adequada. Além da infraestrutura, a cultura de respeito é fundamental. Campanhas de educação contínuas são essenciais para lembrar a todos - motoristas, ciclistas e pedestres - que a rua é um espaço compartilhado.

Outro ponto crucial é a infraestrutura de apoio. De que adianta chegar de bicicleta ao seu destino se não há um local seguro para prendê-la? A instalação de paraciclos em pontos estratégicos, como terminais de ônibus, áreas comerciais, parques e repartições públicas, é um incentivo direto e de baixo custo.

A pergunta que devemos nos fazer é: que cidade queremos para o futuro? Uma que continua refém dos congestionamentos e da poluição, ou uma que oferece caminhos seguros, saudáveis e eficientes para todos? A bicicleta não é a única resposta, mas é, sem dúvida, uma parte vital da solução. Ribeirão Preto tem o potencial. Falta conectar os pontos.

* Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável.