Arborização em Ribeirão Preto: entre a sombra do futuro e o risco do presente
, atualizado
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Em uma cidade onde o calor é um personagem principal em nosso dia a dia, as árvores deveriam ser nossas maiores aliadas. Elas são a infraestrutura verde que refresca o ar, reduz o consumo de energia com ar-condicionado, absorve a água da chuva diminuindo o risco de enchentes e melhora nossa saúde física e mental. São, em essência, um dos investimentos mais inteligentes e baratos para garantir nossa qualidade de vida.
Mas, então, por que a cada temporal, as mesmas árvores que nos abençoam com sua sombra se transformam em vilãs? A resposta é dura, mas necessária: o problema não está na árvore, mas na nossa crônica falta de planejamento e manejo inteligente.
A discussão sobre a arborização em Ribeirão Preto está presa em um ciclo vicioso e perigoso. De um lado, o cidadão que teme a queda de um galho sobre seu carro ou o apagão causado pela interferência na rede elétrica. Do outro, uma gestão que muitas vezes parece atuar de forma reativa, com podas drásticas que mutilam e enfraquecem, ou a remoção sumária que deixa para trás uma cicatriz de concreto. Essa abordagem transforma uma solução em um problema, gerando uma falsa oposição entre segurança e meio ambiente.
O verdadeiro debate que precisamos ter vai além do "corta ou não corta". Precisamos questionar: existe um Plano Diretor de Arborização Urbana ativo e sendo seguido à risca em Ribeirão Preto? Estamos plantando as espécies corretas para cada local, pensando no futuro de suas raízes e copas? Nossos novos empreendimentos imobiliários são projetados para integrar a vegetação como elemento central ou apenas para cumprir uma exigência legal mínima, criando novas ilhas de calor?
A ausência de respostas claras para essas perguntas nos custa caro. Custa em prejuízos materiais, em contas de energia mais altas e, principalmente, em resiliência climática. Uma cidade que cresce sem planejar seu dossel verde é uma cidade que se torna mais quente, mais suscetível a alagamentos e menos saudável para seus habitantes.
Não podemos mais nos contentar com ações paliativas. É preciso uma visão estratégica que integre a Secretaria do Meio Ambiente, a de Planejamento Urbano, a concessionária de energia e, fundamentalmente, a sociedade civil e especialistas da área. Precisamos de um inventário arbóreo, de equipes de manejo preventivo bem equipadas e de um compromisso real com o plantio inteligente, que priorize a diversidade de espécies nativas.
A questão que fica é: estamos tratando nossas árvores como um simples item de paisagismo, que pode ser removido ao primeiro sinal de transtorno, ou como um pilar estratégico para a sustentabilidade e a identidade da nossa cidade? A resposta que daremos a essa pergunta definirá o ar que respiraremos e o futuro que legaremos às próximas gerações.
* Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável