Mães de Osasco
O que aconteceu nas três cidades da Grande São Paulo em 2015 ficou conhecido como chacina, termo usado para descrever um ato violento que envolve um grande número de vítimas, de forma simultânea ou em curto período de tempo. Normalmente, por trás desses ataques, estão grupos de extermínio que podem envolver algum agente público, como um policial. Quando têm envolvimento de agentes públicos, costumam apresentar um fator em comum: são registradas logo após a morte de um policial.
Segundo o estudo Chacinas e a Politização das Mortes no Brasil, publicado pela Fundação Perseu Abramo, em 2019, as chacinas são uma expressão radical da violência letal como recurso político de controle social. Para os pesquisadores, os assassinatos múltiplos são comumente utilizados como uma demonstração pública de poder, utilizado tanto por organizações criminosas como por agentes públicos, principalmente em contexto de instabilidade institucional ou de disputa por territórios e mercados.
A chacina ocorrida em Osasco, Itapevi e Barueri é um dos muitos exemplos de violência no estado de São Paulo. Um levantamento conduzido pela cientista social Camila Vedovello aponta que, entre os anos de 1980 e 2020, foram registrados 828 homicídios múltiplos nas cidades que compõem a região metropolitana de São Paulo, o que inclui a capital paulista. Só no ano de 2015, quando ocorreu a chacina de Osasco, foram registradas ao menos 15 ocorrências desse tipo entre os meses de janeiro e outubro, em todo o estado.
Um outro momento em que ocorreram muitas mortes no estado de São Paulo em um só evento foi em 2006, quando ocorreram os chamados Crimes de Maio, que provocaram a morte de, ao menos, 564 pessoas.
Foi a partir dos Crimes de Maio que teve origem uma das organizações mais fortes e reconhecidas na luta pela defesa dos direitos humanos no Brasil: o Movimento Mães de Maio. Composto pelas mães de vítimas, o grupo surgiu da união dessas pessoas em luto e também pela busca por justiça.
Inspiradas nesse movimento, as mães das vítimas de Osasco e Barueri também decidiram unir forças. E foi assim que nasceu o Movimento Mães de Osasco e Barueri e a Associação 13 de Agosto, presididas atualmente por dona Zilda. A gente não tem nem direito de guardar o luto, disse ela, que acabou transformando o luto em luta. Eu já estou morta, filha, disse ela à reportagem.
Todos os anos, essas mães prestam homenagem a seus filhos que foram assassinados por agentes do Estado. Em 2025, o ato ocorrerá no próximo sábado (16). Eu não quero dinheiro, ninguém quer dinheiro, diz dona Zilda, reforçando que o que as famílias mais querem é justiça e a responsabilização dos culpados.
Dona Zilda sabe a dificuldade que é para essas famílias conquistarem esse objetivo. Fala para mim: qual a resposta de justiça? Você vê toda hora isso [voltar a acontecer], diz. É que nem eu sempre falo. O Brasil é tão cheio de escândalo que os caras nem descobrem aquele e já vem outro, completa.
Outro lado
Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o inquérito policial instaurado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) para investigar o caso foi concluído em dezembro do mesmo ano, com a identificação e indiciamentos de oito pessoas sete policiais militares e um GCM [guarda civil metropolitano]. Segundo a secretaria, todos os PMs envolvidos no caso foram expulsos da corporação.