Moradores protestam e reivindicam saneamento básico - Foto:
Valter Campanato/Agência Brasil “Nesse momento, a nossa preocupação é tentar minimizar os efeitos para a população de um desastre dessa proporção. Agora, a gente ainda vai demorar um tempo para mensurar esse dano”, avalia.
Para o presidente da Organização Não Governamental (ONG) Amigos das Veredas, Flávio do Carmo, o chorume comprometeu o lençol freático no Córrego Santa Bárbara, que faz parte da Bacia do Maranhão.
“Trata-se de uma área histórica. Pela rota do Rio do Sal havia o comércio no Brasil Colônia”, acentua. O ambientalista contextualiza que esse lugar tem força e maior potencial para o ecoturismo, por exemplo. “Mas hoje essa poluição comprometeu a fauna, a produção rural e o abastecimento de água para as pessoas. É preciso ter um processo de compensação ambiental para a comunidade”, opina.
A contaminação do Córrego Santa Bárbara e do Rio do Sal e o espalhamento da fuligem tóxica colocaram em alerta o município de Padre Bernardo, o Estado de Goiás e o Distrito Federal.
“O nosso esforço é para que todas as ações de descontaminação e de retirada desse lixo sejam feitas antes do período chuvoso. As ações emergenciais têm que ser tomadas nesse período de 90 dias até o início das chuvas”, acentua Fábio Miranda, do ICMBio.
Segundo autoridades locais, as primeiras análises mostraram um aumento “muito grande” também de poluentes na água. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) identificou maior presença de sólidos totais dissolvidos, alteração na salinidade e redução do pH da água [medida do grau de acidez ou alcalinidade da água].
“A gente tinha avisado”
A comunidade tem recebido com desconfiança a presença de gestores municipais. Quando a equipe de reportagem da AGÊNCIA Brasil esteve no local, os moradores mostraram descontentamento.
“A gente tinha avisado que essa tragédia estava anunciada para acontecer”, garante a professora Joana D´Arc Sousa, de 51 anos, ao prefeito Joseleide Lázaro. “Agora, a gente precisa dessa solução nesse momento. Porque nós estamos sofrendo com isso aqui”, reclama.
Em resposta, o prefeito garantiu que a gestão está lado a lado com a população “desde o primeiro dia que aconteceu essa tragédia”.
Enquanto o prefeito defendia a posição, representantes da comunidade discordavam. Mas ele disse que seria necessário interditar o lixão. “Qualquer empreendimento que cause danos a terceiros não pode funcionar (...) Quem tem competência para licenciar aterros sanitários é o Estado. Infelizmente, naquela época, foi licenciado e foi renovado em 2018”, defende-se Lázaro.
Até dois meses
O superintendente de fiscalização da secretaria estadual, Marcelo Salles, explica que a ação principal neste momento é liberar a parte do lixo que está sobre o manancial. “Cessar essa contaminação da água. Em seguida, a gente vai acompanhar todas as ações para a retirada desse lixo com o menor impacto ambiental possível”. Para ele, esse trabalho deve durar entre um e dois meses.
Mesmo antes do desabamento, a professora de geografia Joana D´arc Sousa disse que são incontáveis os vizinhos que deixaram suas casas para trás porque sabem que a recuperação tende a demorar “muitos anos”.
Enquanto isso, a comunidade sonha em ter sua história de volta. As pessoas eram orgulhosas de viver em meio à natureza. “Hoje, a gente está aqui, mas amanhã estarão os nossos netos e bisnetos, [eles] podem não encontrar uma beleza como essa, uma cachoeira e um cenário bonito para olhar”, finaliza Rosileuda Rodrigues.