Especialistas debatem impactos da desativação do Minhocão em São Paulo

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Especialistas debatem impactos da desativação do Minhocão em São Paulo
Especialistas debatem impactos da desativação do Minhocão em São Paulo - Foto: Agência Brasil
Especialistas debatem impactos da desativação do Minhocão em São Paulo - Foto: Agência Brasil

O futuro do viaduto Presidente João Goulart, o Minhocão, no centro de São Paulo, e os impactos da desativação do elevado foram debatidos nesta quarta-feira (11) em evento promovido pela Associação Comercial de São Paulo. 

No Plano Diretor do município, aprovado em 2024, a desativação do Minhocão está prevista para ocorrer até 2029. Segundo a prefeitura de São Paulo, isso seria possível com a construção de um corredor de 6,9 quilômetros chamado de Boulevard Marquês de São Vicente.

O trajeto interligaria avenidas da Zona Oeste, como a própria Marquês de São Vicente e a Sérgio Tomás, até a avenida Salim Farah Maluf, na Zona Leste, com necessidade de desapropriações. Em outras ocasiões, o prefeito Ricardo Nunes também já mencionou que planos são avaliados, como a construção de um túnel na região da Santa Cecília que poderia receber o tráfego de veículos que passam atualmente pelo Elevado.

Durante o debate, o coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana no Laboratório de Cidades Arq.Futuro do Insper, Sérgio Avelleda, destacou que as cidades se parecem muito com organismos vivos, porque têm a habilidade de se transformar.

"A São Paulo que muitos conheceram na infância não é a São Paulo de hoje, não será a São Paulo dos nossos netos. O Minhocão foi construído numa época rodoviária, em que nós ainda acreditávamos que construir vias expressas para carros seria a solução para os engarrafamentos que começavam a surgir. E era justificável que a gente pensasse assim naquele tempo, porque havia muito poucas vozes dissonantes", disse.


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Destinação do espaço 

Avelleda destacou que a grande polêmica da cidade é o que fazer com o espaço do Minhocão. Segundo ele, duas vertentes se consolidam há muitos anos: uma que defende a transformação em um parque, usando toda a estrutura em favor de um espaço de convivência; e outra defendendo a demolição.

O arquiteto urbanista Fernando Chucre, ex-secretário de Planejamento e Entregas Prioritárias da Cidade de São Paulo, destacou a necessidade da integração de todas as políticas públicas, todas as áreas do poder público, além da sociedade civil, que também deve opinar sobre o destino do equipamento. Chucre é um dos defensores da criação de um parque no local.

"Com algumas medidas, entre elas a demolição parcial, o estreitamento em alguns locais do tabuleiro da laje do Minhocão no sentido de melhorar a iluminação e ventilação, a abertura de vários vãos ao longo da estrutura, é possível requalificar aquele espaço desde que você faça isso tudo de uma vez só", afirmou.

O especialista em mobilidade urbana e ex-conselheiro da Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo (Cidadeapé), Rafael Gândara Calabria, é a favor da total desativação, sem alternativa viária, e com a existência de um parque. 

"Quando você cria uma alternativa viária, você estimula a piora do trânsito nas duas vias: na que foi feita e na que foi ‘atendida’ e também no entorno. Essa lógica de alternativa viária, de construir, alargar faixa, de alargar, que ainda está muito presente, contraria muitas conclusões técnicas que a gente já tem há bastante tempo no Brasil", explicou.

Demolição

Segundo estudos feitos em 2020, os valores para a total demolição do Minhocão chegariam a R$ 130 milhões, o que em valores atuais deve ser pelo menos o dobro. Segundo Chucre, foram consultadas 200 empresas que comprovaram a inviabilidade da demolição, seja pelos custos ou pelo impacto ambiental e resíduos que seriam gerados. 

"Implodir, com a quantidade de prédios em volta, é inviável, assim como pelo tamanho das peças e pelo tráfego de caminhões na região. Todas as empresas colocaram como inviável. Inclusive consultamos empresas internacionais".

Sobre o Minhocão

O Minhocão foi inaugurado em 1971 e construído com o objetivo de facilitar o tráfego de carros em uma cidade com crescimento acelerado, ligando a Zona Oeste à Zona Leste do município. Ao longo das décadas, a estrutura passou a ser alvo de críticas, como a desvalorização dos imóveis da região e o impacto negativo na paisagem urbana dos bairros por onde passa: República, Santa Cecília e Barra Funda.

Atualmente, o viaduto funciona como via expressa para veículos apenas nos dias úteis até às 20h. Após esse horário e aos finais de semana e feriados, o Minhocão é fechado para automóveis e aberto para o público das 7h às 22h, funcionando como um espaço para caminhada, corrida e lazer.

Jardins de chuva

Depois de abrir um bolsão de vagas para estacionamento sob o viaduto, a prefeitura iniciou no último sábado (7) obras para a construção de jardins de chuva na área sob o viaduto. 

As obras são parte da segunda fase de requalificação da rua Amaral Gurgel sob o elevado, e devem abranger quatro quarteirões, entre as ruas Cunha Horta e Jaguaribe, prevendo um bolsão para taxistas, ponto de aluguel de bicicletas e trepadeiras instaladas nos pilares do Minhocão, junto dos jardins de chuva.