Não há um levantamento socioeconômico sobre o perfil desses abrigados, mas não é difícil constatar que são pessoas em situação de muita vulnerabilidade social.
Desde meados do ano passado no CHA Recomeço, Claudio Joel Bello, de 43 anos e desempregado, conta ter sido atingido pelas enchentes no bairro Mathias Velho, que ficou totalmente alagado por mais de um mês.
Ele foi selecionado pelo programa Compra Assistida para ganhar uma casa em Sapucaia do Sul, também região metropolitana de Porto Alegre, mas reclama da lentidão para finalizar o processo:
"Se o governo me deu minha casa, por que eu vou não vou pra minha casa de uma vez? Tenho quase um ano em abrigo."
O programa, criado pelo governo federal, concede apoio de R$ 200 mil para a compra de imóveis já existentes em qualquer cidade do estado para quem é contemplado. Até o momento, cerca de 1,5 mil contratos foram assinados.
Bello é o único no abrigo que havia sido contemplado com a Compra Assistida. Já os demais se dividem em duas situações: concessão de aluguel social por 12 meses, no valor mensal de R$ 1 mil, e moradia provisória mobiliada instalada no bairro Estância Velha.
Almerinda contou à reportagem que foi ao bairro provisório, mas achou o local pouco seguro e optou pelo aluguel social. Ela, no entanto, não dispõe de móveis para conseguir viver no imóvel alugado.
"A casa tá alugada, foi feito o contrato, foi paga a caução, só que a mobília... Eu vou morar na casa sem nada?", questiona.
No abrigo, uma parecia da ONU Migrações com empresas privadas, ela tenta viabilizar doações de eletrodomésticos, mas a demanda não tem sido atendida: "eu só vou sair do abrigo quanto tiver meus móveis".
Josebete da Silva, de 47 anos, está prestes a deixar o abrigo para o bairro provisório na Estância Velha. Ele vai morar em um contêiner de concreto de 27 metros quadrados com a esposa e duas filhas.
"Para mim, que pago aluguel, vai ser melhor. A esposa que escolheu [essa alternativa]", contou à reportagem. A expectativa dele, que trabalha em um moinho de farinha, é ser contemplado posteriormente em um programa de habitação para uma moradia definitiva.
Respostas
Procurada, a prefeitura de Canoas informou, em nota, que um convênio com o governo do estado é o que está permitindo a construção de 58 casas temporárias. As obras devem estar finalizadas até o dia 15 de maio, quando as famílias poderão se mudar.
"O valor para a instalação dos módulos é de R$ 133 mil por unidade, incluindo as mobílias e eletrodomésticos. São 58 módulos transportáveis e estão localizados no bairro Estância Velha. Ainda há, no governo municipal, o programa Aluguel Social ativo, atualmente contemplando 1.249 famílias, sendo que 77 contratos são de benefícios do CHA".
Em relação às moradias definitivas, de acordo com a administração municipal, há dois empreendimentos com obras iniciadas, nos bairros Niterói e Fátima, que vão totalizar 400 unidades habitacionais, financiadas pela Caixa Econômica Federal. As obras tem previsão de serem concluídas em até 18 meses.
Das três mil unidades habitacionais autorizadas pelo Ministério das Cidades para Canoas, segundo a prefeitura, já foram assinados dois contratos totalizando mais de 1,5 mil unidades exclusivamente para famílias atingidas pelas enchentes, com previsão de entrega em 18 meses. A ideia é buscar autorização para mais 3 mil novas unidades.
Ainda segundo a prefeitura, um outro programa, em parceria com o governo federal, prevê a reconstrução de até 210 casas, no valor unitário de R$ 150 mil, totalizando R$ 31 milhões, por meio Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social.
Após a enchente, foram solicitadas 18.633 vistorias. Deste total, 11.862 foram consideradas habitáveis, e 5.502 imóveis foram classificados como inabitáveis e deverão ser interditados. Outras 1.269 solicitações de vistoria ainda estão pendentes no município.