Propaganda e o Conflito Israel-Palestina: Símbolos Para Massas, Não Para o Realismo

A recente polemica no Blog, sobre Israel e Palestina chamamos o Cientista Político Luiz Rufino

, atualizado

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Luiz Rufino é Cientista político e professor
Luiz Rufino é Cientista político e professor - Foto: Reprodução
Luiz Rufino é Cientista político e professor - Foto: Reprodução

O conflito entre Israel e Palestina, profundo e multifacetado, tornou-se, além de uma tragédia humana, um terreno fértil para a construção de narrativas políticas em todo o mundo. No Ocidente, partidos de esquerda e direita apropriaram-se do debate como um elemento de seus respectivos tabuleiros discursivos: a esquerda, de maneira geral, utiliza a causa palestina como um símbolo da luta contra a opressão imperialista; já a direita, por outro lado, abraça a retórica pró-Israel em nome de valores como segurança, ordem e luta contra o terrorismo. No entanto, essas posições não são ancoradas em interpretações realistas ou complexas do conflito, mas essencialmente em uma instrumentalização que reduz décadas de história e sofrimento a slogans e bandeiras úteis para mobilizar suas bases políticas.

No caso da esquerda, a Palestina passou a ser frequentemente utilizada como um ícone da resistência dos povos oprimidos contra colonizadores ou potências hegemônicas. Campanhas levantam a bandeira palestina como sinônimo de luta anti-imperialista – independentemente da multiplicidade de atores, interesses, e das contradições internas do próprio movimento palestino. A poesia do "povo oprimido contra a ocupação" substitui discussões pragmáticas sobre corrupção na Autoridade Palestina ou o uso autoritário do Hamas sobre a Faixa de Gaza. A narrativa, embora relevante para denunciar as injustiças sofridas pela população palestina, ignora completamente os matizes do problema e adota uma perspectiva que serve mais à política doméstica de seus defensores do que a qualquer solução concreta para o Oriente Médio.

Do lado da direita, Israel é exaltado como um modelo de civilização, democracia e vanguarda tecnológica, estacionado corajosamente em meio ao caos de seus vizinhos. A imagem de Israel como bastião da "ordem e progresso" frente ao "caos islâmico" é abraçada como parte de uma narrativa que reforça medos de insegurança e terrorismo em outras partes do mundo. Esse discurso, no entanto, frequentemente ignora os excessos de suas políticas internas, como a expansão ilegal de assentamentos, o endurecimento do apartheid na Cisjordânia e as consequências desumanas dos bloqueios sobre Gaza. Essa redução utilitarista do Estado de Israel a um símbolo de segurança esconde uma realidade infinitamente mais complicada – uma realidade que também tem violência, desigualdades, e recusa em dialogar de forma mais generosa com a questão palestina.

Essas narrativas, tanto de esquerda quanto de direita, desconectam-se das raízes reais do conflito. No fundo, são símbolos autoexplicativos, como descrito pela ciência política – não tentam descrever o problema e sim reconfigurá-lo de maneira que faça sentido dentro de um imaginário político simplificado, ideal para mobilizações de massa. Elas não se direcionam ao entendimento do Oriente Médio, mas às pulsões emocionais de seus respectivos públicos. Mais do que debates conduzidos pela razão, são ferramentas hipnóticas de propaganda que reduzem o que deveria ser histórico e contextual a questões de "bem contra mal", "opressores contra oprimidos". Na prática, servem mais para consolidar identidades políticas nos países onde são propagadas do que para resolver ou sequer entender o conflito real.

E o resultado disso é a torcida. Plateias inflamadas em ambos os lados aplaudem discursos que jamais tocariam o solo do Oriente Médio. É um mecanismo eficaz, porém vazio: ao simplificar e polarizar o conflito, essas construções retiram dele qualquer nuance e tornam impossível o esforço coletivo pela compreensão – que é, na verdade, o único caminho viável para soluções. No fim, Israel e Palestina tornam-se apenas palcos distantes de uma propaganda que fala mais sobre quem a usa do que sobre o que realmente acontece no terreno do conflito.

 

Cientista Político Luiz Rufino, Sócio Diretor da CIVITAS Consultoria Política, profissional com formação acadêmica em Ciências Sociais, Filosofia e Estratégia. Experiência de mais de 10 anos em Gestão de Pessoas. Especialista em Pesquisas Quantitativas e Qualitativas. Mais de 15 anos vividos em Comunicação Social (Rádio, TV e Mídia Impressa).