Nova gestão, velhos desafios: a agenda ambiental urgente de Ribeirão Preto
, atualizado
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Os primeiros meses de uma nova gestão municipal são sempre um termômetro das prioridades e da capacidade de ação do governo eleito. Em Ribeirão Preto, com a administração de 2025 já em curso, a agenda ambiental se impõe como um dos campos mais críticos e que mais exigirão visão estratégica, coragem e, sobretudo, resultados efetivos. Os problemas são conhecidos, alguns históricos, e as soluções demandam mais do que diagnósticos repetidos; exigem um novo fôlego e um compromisso real com a sustentabilidade.
Um dos desafios mais emblemáticos é a gestão de resíduos sólidos. Informações de debates e análises recentes indicam que Ribeirão Preto enfrenta uma taxa de reciclagem preocupantemente baixa, com algumas fontes apontando que menos de 3% do lixo gerado na cidade é efetivamente reciclado. Isso significa que a esmagadora maioria dos resíduos segue para aterros, diminuindo sua vida útil, desperdiçando recursos valiosos e potencializando a emissão de gases de efeito estufa, como o metano, que também pode contaminar o solo e o aquífero. Enquanto isso, "bolsões" de descarte irregular de entulho e outros resíduos ainda marcam a paisagem urbana e rural. A pergunta que fica é: a nova gestão irá confrontar esse cenário com medidas robustas, que vão além da coleta seletiva pontual e realmente fomentem a economia circular, valorizem o trabalho das cooperativas e eduquem a população para uma mudança de hábitos? Ou continuaremos a "enterrar" um problema que poderia ser fonte de renda e desenvolvimento sustentável?
Paralelamente, a preservação dos nossos recursos hídricos clama por atenção urgente. Ribeirão Preto é 100% abastecida pelas águas do Aquífero Guarani, um gigante subterrâneo de valor inestimável. No entanto, estudos recentes apontam para uma realidade alarmante: a reposição do estoque hídrico do Aquífero Guarani pode ser insuficiente frente ao volume consumido, com indícios de superexploração e rebaixamento do nível em diversas regiões. Essa pressão, somada à necessidade de proteger as áreas de recarga contra a expansão urbana desordenada e a contaminação por diversas fontes, coloca em xeque a segurança hídrica das futuras gerações. Além disso, os córregos urbanos, como o Retiro e o Ribeirão Preto, que já passaram por processos de desassoreamento, continuam sob ameaça de poluição. Notícias sobre mortandade de peixes e alterações na qualidade da água ainda surgem, evidenciando que o tratamento de esgoto e o combate ao despejo irregular precisam ser contínuos e mais eficientes. Vale lembrar que, em 2017, estimava-se que a Bacia Hidrográfica do Pardo ainda recebia toneladas de esgoto diariamente. A revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico, que já apresentava atraso em 2024, é outra tarefa inadiável.
A nova administração municipal herda, portanto, um passivo ambiental considerável, mas também a oportunidade de fazer diferente. A sociedade ribeirão-pretana espera ações concretas que demonstrem uma real priorização do meio ambiente. Isso envolve não apenas a aplicação das leis existentes, como o Plano Diretor e o Código Sanitário, mas também a inovação na busca por soluções, o fortalecimento dos órgãos de fiscalização, o investimento em educação ambiental e a transparência na gestão dos recursos naturais.
É fundamental que a nova gestão apresente um plano ambiental claro, com metas mensuráveis e cronogramas definidos, e que dialogue abertamente com a sociedade, universidades e organizações do terceiro setor. Os desafios são imensos, mas a inação ou as soluções paliativas não são mais uma opção. Ribeirão Preto precisa de um choque de gestão ambiental para garantir um futuro mais saudável, resiliente e sustentável para todos os seus cidadãos. Estaremos atentos e cobrando.
* Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável.