Tecnologias limpas e o futuro energético: Ribeirão Preto na vanguarda do PATEN?

, atualizado

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A transição energética deixou de ser um debate futurista para se tornar uma realidade urgente e um motor de desenvolvimento econômico global. No Brasil, iniciativas como o recém-discutido Programa de Aceleração da Transição Energética (PATEN) surgem com a promessa de impulsionar o país rumo a uma matriz mais limpa e sustentável, fomentando investimentos em tecnologias inovadoras. Diante desse cenário, uma pergunta se impõe: qual será o papel de Ribeirão Preto? Seremos protagonistas na captação de recursos e na vanguarda da inovação, ou meros espectadores das transformações que o PATEN e programas similares podem catalisar?

Ribeirão Preto possui um potencial invejável. Nossa cidade é abençoada com uma alta incidência solar, uma das maiores do Brasil, o que já tem incentivado a proliferação de painéis solares em residências e empresas. Somos, historicamente, um polo de bioenergia, com vasta experiência na produção de etanol e outras formas de energia a partir da biomassa. Esses são trunfos poderosos na corrida pela descarbonização e pela atração de investimentos verdes. Eventos como a Agrishow, por exemplo, já começam a timidamente destacar soluções energéticas mais limpas para o campo, mas será que estamos aproveitando todo o potencial dessa vitrine?

Um programa com o escopo do PATEN visa, essencialmente, destravar investimentos e acelerar a implementação de projetos que vão desde a geração de energia renovável em larga escala até a modernização de redes e o fomento à mobilidade elétrica. Para uma cidade como Ribeirão Preto, isso significa uma janela de oportunidade gigantesca. Estamos falando da chance de atrair indústrias de componentes para o setor de energia solar e eólica, de expandir o uso de biogás e biometano, de modernizar nossos edifícios públicos para alcançar maior eficiência energética, e até mesmo de nos tornarmos um centro de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias limpas.

Contudo, não basta ter potencial; é preciso estratégia e ação. Estarão nossas lideranças políticas e empresariais atentas e articuladas para apresentar projetos robustos que se qualifiquem para os incentivos do PATEN? Ou ficaremos esperando que as oportunidades batam à nossa porta, correndo o risco de vê-las escoar para outras regiões mais proativas? A transição energética exige mais do que discursos; demanda planejamento, investimento em infraestrutura, capacitação de mão de obra e um ambiente regulatório que favoreça a inovação.

O debate é crucial: estamos apenas acompanhando as notícias sobre o PATEN ou já estamos nos estruturando para sermos um polo de referência? A criação de linhas de crédito específicas por instituições financeiras é um passo, mas a ambição local precisa ir além. Precisamos de um ecossistema que integre universidades, empresas, poder público e a sociedade civil, todos engajados em transformar Ribeirão Preto em um verdadeiro laboratório e exportador de soluções sustentáveis.

A transição energética é uma jornada coletiva. O PATEN e outros programas de fomento são ferramentas valiosas, mas o protagonismo de Ribeirão Preto dependerá da nossa capacidade de inovar, colaborar e, principalmente, de ousar. Temos sol, biomassa, conhecimento e uma localização estratégica. A questão é: saberemos transformar esses ativos em um futuro mais limpo, próspero e energeticamente inteligente para todos? Que este seja o momento de acelerarmos nossos próprios motores rumo a essa transformação.

* Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável.