Educação Ambiental: projetos locais que ensinam sustentabilidade às crianças

, atualizado

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Em Ribeirão Preto, a sustentabilidade começa a ser construída desde a infância, e a educação ambiental tem se mostrado um dos caminhos mais eficazes para formar cidadãos preparados para os desafios do futuro. Projetos locais vêm inovando ao criar experiências que vão além da sala de aula tradicional, aproximando crianças e jovens dos temas ambientais de forma prática e envolvente. Um exemplo emblemático é o projeto que funciona dentro de um clube de lazer, onde espaços pedagógicos foram especialmente desenhados para abordar diferentes temas ambientais. Ali, a natureza é o principal recurso didático: crianças plantam hortas, conhecem abelhas nativas, aprendem sobre reciclagem e compostagem, e vivenciam, na prática, o impacto de pequenas atitudes no cotidiano.

Essas iniciativas partem do princípio de que o contato direto com o ambiente natural é insubstituível para despertar o interesse e o senso de responsabilidade ambiental. Em tempos de déficit de natureza, quando muitos jovens crescem distantes do mundo natural, projetos como esse são quase revolucionários. Eles não apenas transmitem conhecimento, mas também criam vínculos afetivos com o meio ambiente, tornando a sustentabilidade algo concreto e pessoal. O resultado é visível: crianças que participam dessas atividades costumam levar o aprendizado para casa, influenciando hábitos familiares e multiplicando a consciência ambiental em sua comunidade.

No entanto, é preciso ir além do entusiasmo inicial. Apesar dos avanços, a educação ambiental ainda é vista por muitos como um tema secundário, restrito à infância ou a datas comemorativas. Essa visão limitada é um erro estratégico. Em uma cidade marcada por desafios ambientais – como calor extremo, expansão urbana desordenada e pressão sobre recursos naturais –, a formação ambiental deveria ser prioridade em todas as etapas da educação, inclusive para adultos. Ribeirão Preto já conta com outras iniciativas relevantes, como centros de educação ambiental mantidos por ONGs e projetos públicos, mas o alcance dessas ações ainda está muito aquém do necessário para transformar a cultura local.

A provocação é inevitável: por que não transformar a educação ambiental em eixo central das políticas públicas, integrando-a ao currículo escolar, aos clubes, aos espaços de lazer e até mesmo às práticas familiares? Por que não valorizar as crianças como agentes de mudança, capazes de inspirar adultos a repensarem seus próprios hábitos? Em vez de esperar soluções de cima para baixo, por que não ouvir e aprender com os pequenos, que já demonstram capacidade de liderança e criatividade quando o assunto é cuidar do planeta?

Projetos locais têm mostrado que é possível, sim, ensinar sustentabilidade de forma inovadora e eficaz. Mas para que Ribeirão Preto avance de verdade, é preciso ampliar o alcance dessas experiências, garantir apoio institucional e envolver toda a sociedade – escolas, famílias, empresas e poder público – no compromisso com o futuro. A educação ambiental não pode ser tratada como adereço, mas como estratégia essencial para garantir qualidade de vida, justiça social e resiliência diante das mudanças climáticas.

O futuro sustentável da cidade depende de cada semente plantada hoje – e, muitas vezes, quem planta é justamente quem ainda está aprendendo a ler e escrever.

* Engenheiro elétrico, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Especialista em energia sustentável.