Para ele, esse foi o primeiro estudo no mundo a estimar a biomassa e carbono das plantas lenhosas de inselbergs. Mas, para descobrir o potencial real de sequestro de carbono dessas comunidades vegetais, seria preciso aprofundar os estudos, pesquisando, por exemplo, o tempo de vida, sua velocidade de crescimento e a biomassa e carbono estocados na raiz.
“Sem essas respostas, é difícil fazer estimativas do potencial de sequestro de carbono. Essas questões serão monitoradas e avaliadas em estudos futuros que a equipe pretende desenvolver a depender de financiamento. Isso permitirá obter dados robustos sobre o potencial de carbono fixado anualmente por essa vegetação, por exemplo”, avalia.
Carbono
Apesar disso, sabe-se que as plantas lenhosas de inselbergs podem armazenar entre 14 e 48 toneladas de carbono por hectare apenas na biomassa aérea (sem considerar as raízes), valor equivalente ao das florestas estacionais que crescem no entorno dos inselbergs do sul do Espírito Santo.
Mas, em um contexto de mudanças climáticas, o potencial de sequestro de carbono não é a única contribuição que o conhecimento dessa vegetação pode trazer ao ambiente. Por terem serem afloramentos rochosos, os inselbergs acumulam pouco solo e, consequentemente, poucos nutrientes e água, além de estarem sujeitos à alta exposição solar.
“As espécies que vivem nos inselbergs possuem adaptações importantes que lhes conferem maior resistência a condições extremas, como solos rasos, alta exposição solar e escassez de água e nutrientes. Algumas dessas adaptações incluem raízes tuberosas, que armazenam água, e folhas caducifólias, que caem durante os períodos mais secos para reduzir a perda hídrica”, explica o estudioso.
Restauração florestal
Por sua grande resistência a adversidades, tais espécies podem tornar projetos de restauração florestal mais eficientes, especialmente em áreas sujeitas à mineração, atividade econômica que é uma ameaça aos próprios inselbergs capixabas.
“Muitas das espécies lenhosas inventariadas são bem adaptadas a essas condições desafiadoras. Por isso, elas se mostram promissoras para uso em projetos de restauração de áreas degradadas pela mineração de rochas ornamentais”, explica Dayvid Couto.
Acrescenta que “a indústria de rochas ornamentais é uma das atividades econômicas mais relevantes no Espírito Santo. No entanto, os impactos profundos que essa atividade causa na biodiversidade dos inselbergs têm sido amplamente negligenciados”.
Segundo ele, “esses ecossistemas abrigam um número expressivo de espécies vegetais, muitas delas endêmicas e ameaçadas de extinção.
Desafio para a ciência
“Restaurar as funções ecológicas e as interações bióticas nesses ambientes após a mineração é um desafio imenso para a ciência. Nosso estudo evidencia lacunas importantes de conhecimento e reforça a necessidade de investimentos em pesquisas voltadas especificamente para esse tipo de ambiente. A partir desses dados, é possível buscar soluções mais sustentáveis e inovadoras, capazes de transformar essa indústria em um modelo de responsabilidade socioambiental”, explica.
O levantamento identificou que 17 das 26 espécies que não constavam em um inventário da flora de inselbergs da Região Sudeste do Brasil, realizado recentemente, o que mostra que ainda há muito a se conhecer em relação à diversidade vegetal desses ambientes.