Em liquidação, Coderp tem servidores ganhando mais que o prefeito
Remuneração de Ricardo Silva, que deveria ser o teto municipal, é superada por pelo menos quatro faixas salariais da estatal
, atualizado
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Em meio a um polêmico processo de liquidação, a Coderp (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto) paga salários acima do teto municipal, ou seja, acima do ganha do prefeito Ricardo Silva (PSD) para pelo menos quatro categorias de servidores. Ao todo, a estatal tem 20 faixas salariais – que englobam um ou mais servidores – com pagamentos acima dos R$ 20 mil.
Ultrapassam os R$ 34.384,86 recebidos mensalmente por Silva os ordenados que desempenham, na companhia, as funções de Analista de Sistema Sênior II (R$ 63.414,45), Gerente de Desenvolvimento (R$ 59.775,74), Auxiliar Administrativo (R$ 37.259,53) e Analista de Sistemas Pleno I (R$ 34.986,64). (Confira o quadro completo abaixo).
As informações foram obtidas pelo Jornal Ribeirão com base em dados públicos de abril de 2025 e informações do último balancete da estatal, referente ao exercício financeiro de 2024.
Pela Constituição, o teto salarial do funcionalismo é aplicável a empresas estatais “dependentes”, ou seja, aquelas que recebem recursos da União, dos Estados ou dos Municípios a que pertencem.
Com 60 funcionários listados na última folha de pagamento divulgada, a empresa gastou cerca de R$ 1,6 milhão com salários e encargos. Por ano, isso significa um gasto de mais R$ 70 milhões apenas com os recursos humanos.
Em nota encaminhada ao Jornal Ribeirão, o ex-prefeito Duarte Nogueira (PSDB) defendeu o processo de liquidação da Coderp.
“Iniciamos em 2022 a liquidação da CODERP para aumentar a eficiência da administração pública e reduzir custos. O processo foi realizado com responsabilidade, preservando sistemas essenciais como folha de pagamento, saúde, educação e tributos, sem interrupções. Houve redução gradual do quadro de servidores, com transferência de funções e absorção de serviços pela prefeitura. Em alguns casos, manter serviços internos com suporte técnico da Coderp foi mais eficiente do que terceirizar. A gestão avançou na estruturação do processo, garantindo uma finalização segura, respeitando os servidores e assegurando a continuidade dos serviços à população”, diz o texto.
A gestão Ricardo Silva e o atual comando da estatal também se manifestaram por escrito.
“A Prefeitura de Ribeirão Preto informa que as informações contábeis e financeiras da Coderp estão devidamente registradas no Balanço Patrimonial, divulgado no dia 11 abril, em cumprimento aos princípios da transparência e da responsabilidade fiscal. Ressaltamos que a Prefeitura, juntamente com sua equipe técnica, está analisando com responsabilidade e cautela a situação da empresa e os próximos passos a serem tomados. Todas as decisões serão pautadas pelo interesse público, legalidade e viabilidade técnica e administrativa”, conclui a nota.
Top 20 maiores faixas salariais da Coderp
1.R$ 63.414,45 - Analista de Sistema Sênior II
2.R$ 59.775,74 - Gerente de Desenvolvimento
3.R$ 37.259,53 - Auxiliar Administrativo
4.R$ 34.986,64 - Analista de Sistemas Pleno I
5.R$ 32.178,00 - Analista de Sistema Sênior I / Gerente de Infraestrutura
6.R$ 30.933,96 - Assistente Social Pleno I
7.R$ 32.445,04 - Coordenador Infraestrutura TI
8.R$ 30.637,72 - Programador Sistema Junior II
9.R$ 25.624,46 - Supervisor de Infraestrutura
10.R$ 27.939,20 - Analista de Sistemas Pleno III
11.R$ 26.843,76 - Operador Computador Pleno III
12.R$ 25.771,53 - Analista de Sistemas Sênior II
13.R$ 23.983,47 - Assistente Administrativo / Coordenação Jurídica Administrativa
14.R$ 23.857,47 - Gerente Administrativo
15.R$ 23.512,22 - Operador Computador Pleno III
16.R$ 23.456,55 - Assistente Administrativo / Coord. Jurídica Administrativa
17.R$ 22.367,10 - Analista de Supervisão Pleno III
18.R$ 21.223,43 - Supervisor de Sistemas
19.R$ 21.082,73 - Programador de Sistemas Sênior III
20.R$ 20.593,02 - Coordenador de Arquitetura Diretoria
Obs.: Trata-se de faixa salarial podendo ter mais de um funcionário no mesmo cargo e salário
Acionista majoritária e cliente, prefeitura ficará com o prejuízo
Criada para desenvolver sistemas que atendessem às necessidades do município na área de Tecnologia da Informação, a Coderp tem apenas um cliente: a Prefeitura de Ribeirão Preto. A administração municipal ocupa, por outro lado, a posição de acionista majoritária da companhia. isso significa que deve sair dos cofres dela o dinheiro para honrar as dívidas da estatal, se a liquidação for mantida.
Em 2022, quando a Assembleia Geral da empresa aprovou o plano, a previsão era de que o município repassasse R$ 90 milhões. Um terço disso foi autorizado pela Câmara no mesmo ano.
Após três anos, a Prefeitura repassou quase todo montante a Coderp e de acordo com o Balanço Patrimonial de 2024, a dívida com a Fazenda Nacional ainda soma R$ 26 milhões, enquanto as faturas em aberto com fornecedores batem na casa dos R$ 12 milhões.
Os valores de disponibilidades ativas financeiras a curto prazo, valores de liquidez imediata não ultrapassam 5% do montante das dívidas.
Realizada já no governo Ricardo Silva, a última Assembleia da companhia discutiu apenas os números do balanço. Presente na reunião, o secretário municipal de Justiça, Augusto Martinez Perez, deixou em aberto a possibilidade de manter as atividades da empresa.
Histórico de Prejuízos
Ao longo dos 53 anos, a Coderp obteve superavit em apenas um dos seus exercícios, ano que suas contas foram reprovadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado).
O atual balanço patrimonial encerrado em 2024, publicado em 2025, recentemente apontou exercício deficitário em 2024 R$2,3 milhões. Em 2023, o saldo negativo foi de R$9,3 milhões. Os prejuízos acumulados são da ordem de R$ R$119 milhões ao longo de sua histórica cujo Capital Social e suas reservas não acompanharam. O Capital Social é de R$ 8,7 milhões, enquanto o Patrimônio Líquido está em R$112 milhões negativo.
Especialista defende mudança
Para o professor do Ibrap José Luiz Dutra Ferreira, Contador e MBA em Gestão Pública e o cenário na Coderp pode indicar a necessidade de mudanças em sua formatação. Uma fundação ou mesmo uma secretaria poderiam executar as mesmas funções hoje atribuídas à companhia com mais eficiência.
Ele explicou que empresas públicas puras não pagam imposto de renda, pois não têm lucro, enquanto as empresas de economia mista visam o lucro e devem pagar impostos sobre ele. Ferreira ressaltou a importância de avaliar se é mais vantajoso para a empresa ser uma economia mista ou uma empresa pública, levando em consideração fatores como controle, gestão e carga tributária.
O especialista também destacou a necessidade de uma boa auditoria e transparência na demonstração da situação financeira da empresa. Ferreira ainda mencionou a situação de municípios e estados endividados, que não têm obrigatoriedade de recolhimento de impostos e a importância de tomar medidas para reverter essa situação.
“Não é por conta de realizar ou não atividades contratadas somente pela administração pública a qual pertence sua maioria das ações, mas sim, avaliar qual terá melhores benefícios, se é melhor talvez ser uma economia mista, onde lá haverá um gestor e um melhor controle que não a prefeitura municipal, o governador do estado, senão até mesmo o presidente da república”, conclui.