Biblioteca
Denise Santos, moradora do Salgueiro, morro próximo à sede do Tear, se aproximou do projeto em um encontro de redes que o Instituto realizou no Sesc Tijuca e foi o ponto de partida para ações na comunidade, principalmente na Biblioteca Comunitária Jurema Gomes Baptista. Nós fizemos o Pé de Livro nessa parceria, e o Tear também fez um documentário do grupo cultural Caxambu do Salgueiro. Nosso contato já vem de anos, explicou.
A agente cultural falou com entusiasmo da iniciativa realizada por jovens que fizeram um mapa com diagnóstico do Salgueiro para identificar todos os pontos de cultura que existem na comunidade, como a Rádio Se Liga Salgueiro.
É uma rádio comunitária, não é uma rádio web, FM, é uma rádio poste e, através dessa rádio, a gente faz programa de identificação da comunidade, conta histórias da comunidade que fica ligada. A gente traz para este público a questão das fake news, do meio ambiente, dos impactos climáticos e como eles podem também atingir a nossa comunidade. A gente fala do racismo ambiental, um monte de coisas, afirmou.
As atividades no Salgueiro ocorrem na Biblioteca Jurema Gomes Baptista, nome dado em homenagem a uma senhora que por muito tempo foi explicadora, atuava como professora na comunidade, inclusive teve Denise como aluna. A gente a homenageou em vida para ver que o trabalho deu resultado. Em cima da Biblioteca tem uma quadra onde a gente faz atividades juntamente com o Tear, como o Mundaréu de Brincadeiras. Esse Pé do Livro foi em uma pracinha próxima à biblioteca, comentou, lembrando que o acervo de livros começou com doações dos próprios moradores do Salgueiro.
Essa troca do Tear com as comunidades para a gente é muito importante porque traz uma bagagem de conhecimento que eles têm para o público infanto-juvenil. Agrega bastante até para gente adulta que aprecia um livro, mas não tem essa maneira do Tear de trazer essa magia para contar histórias e resgatar brincadeiras que se perderam no tempo em função da tecnologia, disse, destacando que nota transformação nas crianças que participam das atividades. Eles comentam, querem saber quando vai ter de novo.
Denise que é PCD, pessoa com deficiência, não enxerga de um olho e o outro tem visão parcial, destacou a realização de atividades para a inclusão social. Eu só enxergo com caixa bem alta [tipo de letra maior]. Até então, as crianças não sabiam que eu era PCD, então trouxemos essa questão do livro PCD, falamos da diversidade das pessoas PCDs para eles, porque na nossa composição não tem criança PCD nesse nível do meu. Passei para eles quais são as dificuldades; trouxemos também o que são as crianças autistas; e começamos a trabalhar essa parte, que elas têm que acolher o outro, o diferente. Trouxemos acervo de braille para a Biblioteca, afirmou.
Outro projeto importante do Tear é o Tecelares de Leitura, que por meio de oficinas e encontros literários, forma professores e agentes de leitura dos morros do Salgueiro, Formiga, Borel e São Carlos. No caso dos adultos a gente tem uma centralidade na formação de educadores. A gente precisa estar sempre buscando esses entrelaços com o campo da educação. É uma organização sem fins lucrativos, mas com o compromisso de estar falando com outras organizações do campo formal. Uma grande parceria que a gente sempre manteve foi com as escolas, sobretudo púbicas, disse a fundadora do Tear.
Integração
Denise Mendonça adiantou que no dia 2 de agosto, a sede do instituto vai receber integrantes das comunidades do Rio de Janeiro. Elas vão brincar juntas. Crianças que vêm de vários lugares do Rio de Janeiro vão se encontrar no Tear, contou animada.
Vai ser uma atividade ótima, vai ter integração com crianças de outras comunidades. Vai ter aquela energia diferente, completou Denise Santos.
Recursos
O financiamento dos projetos é uma dificuldade para o Tear, que tem se mantido, em parte, por meio de editais com os quais consegue os recursos necessários para as atividades. Como ocorreu com os projetos Mundaréu de Brincadeira e o Tecelares de Leitura.
O que mais traduz o Tear é a prática de um trabalho que conecta a gente com a gente mesmo, com o outro e o mundo. O sentido da conexão que somos diversos. É a grande chave para a gente estar aí passando por tudo isso com portas abertas, teve a pandemia. A gente vai se reinventando em formas de trabalho e de chegar ao público. O Tear como um espaço que se pretende atender camadas sociais de baixa renda e vulnerabilidade, menorizados, depende de apoios, de projetos, de doações, para poder continuar, indicou as dificuldades em manter a sustentabilidade das atividades.
Depois de quatro mudanças, a sede do Tear, agora é no número 168 da Rua Pereira Nunes, na Tijuca, onde segundo a fundadora, tem um quintal brincante necessário para as crianças.
A gente vem recebendo muitos alunos, sobretudo, crianças, adolescentes e jovens com deficiências ou com transtornos. Então mais do que nunca esse espaço da natureza contribui profundamente para trabalhos inclusivos que a gente vem desenvolvendo nos últimos dez anos, disse.
Neste momento, o Instituto está em busca de parceiros para dar continuidade aos projetos e ampliar o alcance das ações socioculturais gratuitas. A gente tem muitos desafios, mas felizes e gratos porque o trabalho do Tear é regenerante, concluiu.